Não conheço muito da obra de Martin Rejtman. Este “Silvia Prieto” (1999), contudo, é um grande filme. Gosto muito dele. É um filme povoado por personagens que chegaram aos 30 e percebem que algo está mudando. Nenhum deles parece estar onde realmente queria, ou melhor, onde havia planejado estar quando chegasse a essa idade. O cineasta opera nesse microcosmo de personagens, que interagem a partir de um pequeno número de situações que se repetem a todo o momento. Eles não são frutos de ações. São o que dizem. Mas o que dizem não corresponde ao que fazem. É uma coisa um tanto confusa. Os atores são como marionetes, jamais cedem à tentação de “representar” o texto, como se estivessem escutando suas próprias palavras ditas por um outro. O tom é limpo e monocórdio, as falas parecem desapropriadas de significação, e a narrativa carece de qualquer sentido de profundidade trágica. Uma aventura dialogada sobre o nada?
Em “Silvia Prieto”, cada personagem pode ser definido por um grau de potência singular e, por conseguinte, por um certo poder de afetar e de ser afetado. Silvia Prieto é como um carrapato. Deleuze gostava dessa metáfora. O carrapato é aquele que busca o lugar mais alto da árvore, depois se deixa cair quando passa algum mamífero, e, por fim, se enfia debaixo da pele do animal, chupando o seu sangue. O que o afeta? A luz, o cheiro e o sangue. Eis um ser que se define por seus afetos. Ele poderia ficar um tempo longuíssimo na espera em meio à floresta imensa e silenciosa, para, de repente, ter o seu breve festim de sangue e possivelmente a morte. Silvia Prieto, por sua vez, troca de nome e identidade. Não liga muito para essas coisas. Não liga muito para nada. É sempre tudo uma questão de experimentação. Seu grau de potência, o seu poder de afetar e de ser afetada, não pode ser medido e jamais se esgota. Ela inventa constantemente a cena na qual se mostrará visível e a língua que a permitirá se expressar. Ela se nomeia e nomeia o mundo do qual quer fazer parte. E nesse jogo - eminentemente político, diga-se de passagem – o cinema recupera uma certa potência e evoca um outro agir na relação com o outro.
Em “Silvia Prieto”, cada personagem pode ser definido por um grau de potência singular e, por conseguinte, por um certo poder de afetar e de ser afetado. Silvia Prieto é como um carrapato. Deleuze gostava dessa metáfora. O carrapato é aquele que busca o lugar mais alto da árvore, depois se deixa cair quando passa algum mamífero, e, por fim, se enfia debaixo da pele do animal, chupando o seu sangue. O que o afeta? A luz, o cheiro e o sangue. Eis um ser que se define por seus afetos. Ele poderia ficar um tempo longuíssimo na espera em meio à floresta imensa e silenciosa, para, de repente, ter o seu breve festim de sangue e possivelmente a morte. Silvia Prieto, por sua vez, troca de nome e identidade. Não liga muito para essas coisas. Não liga muito para nada. É sempre tudo uma questão de experimentação. Seu grau de potência, o seu poder de afetar e de ser afetada, não pode ser medido e jamais se esgota. Ela inventa constantemente a cena na qual se mostrará visível e a língua que a permitirá se expressar. Ela se nomeia e nomeia o mundo do qual quer fazer parte. E nesse jogo - eminentemente político, diga-se de passagem – o cinema recupera uma certa potência e evoca um outro agir na relação com o outro.
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