Não cheguei ao fim. Sequer sinto-me apto a dar-lhe estrelinhas. Fiquei realmente nervoso, irritado mesmo, com este filme. “Apenas o fim” (2008) já havia causado uma reação parecida. Eu, contudo, otimista, resolvi ver este “Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida”. Saí da sessão depois de uns quarenta minutos, e, já na rua, em Copacabana, fiquei pensando sobre o que me incomoda tanto nestes filmes. E devo dizer, logo de cara, que não se trata da encenação limitada, um pouco preguiçosa e bem comportada de Matheus Souza. É mais do que isso.
Souza investe em um humor descolado, supostamente inteligente, porém totalmente desconectado com os sentimentos dos personagens. Coisas como: “Você tem cada de quem mora em casa” ou “Acredito que existe um lugar para onde vão todas as tampas de canetas”. E então, quando os sentimentos veem para o primeiro plano, fica muito difícil levá-los a sério. Os personagens estão todos em uma espécie de competição de performances (até mesmo os personagens reais que aparecem no projeto documental da protagonista). Estamos diante de um filme muito mais preocupado em exteriorizar um certo número de referências, de gracejos e tiradas verbais, do que na observação e nos sentimentos. Quer dizer: são subjetividades exteriorizadas onde vigoram a projeção e a antecipação. Uma subjetividade que se constitui na própria exterioridade, no processo mesmo de se projetar e de se fazer visível a outrem. É difícil solidarizar com estes personagens. Eles se filiam a qualquer gosto. São muito mais um estilo do que qualquer outra coisa.
O filme se afirma como uma história de autoconhecimento. Ok. Mas estes personagens são tão conscientes de si mesmos, de seus sonhos, de seus fracassos, da natureza das relações que mantém com seus familiares e (ex)amantes. E “Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida” fala sem parar, mas nunca ouve, ninguém. É tudo tão... falso. Por isso, sinto-me muito incomodado quando ouço dizerem que se trata de um retrato geracional, de uma juventude da era da internet e do consumismo. Acho esta visão absolutamente míope e distorcida. Estes jovens são tão formatados, enquadrados, limitados (por roteiro, referências mil e uma certa visão de mundo), como os de “Malhação”.
Eu não conhecia até bem pouco tempo atrás ninguém que gostasse realmente ou abertamente dos filmes de Souza. Os meus amigos sequer veem seus filmes. Os meus primos mais jovens tampouco se dizem fãs de “Apenas o fim” ou “Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida”. Como então Souza conseguiu fazer tanto (coluna em jornal, dois longas, peças de teatro, etc)? Não conseguia entender isso. Outro dia, contudo, ao ver o pôster de um de seus filmes na rua, minha afilhada de onze anos ficou animada. Ela gostou de “Apenas o fim” e queria muito ver “Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida”. Nada contra ter fãs de onze anos. Mas isso não é no mínimo estranho? Souza tem seus vinte e tantos anos. Faz filmes sobre personagens com a mesma idade que ele. Contudo, quem se identifica com eles, quem gosta dos longas, têm uma década a menos.
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