sexta-feira, junho 13, 2014

heli °

É uma coisa um tanto amoral esse "Heli". "Bastardos" (2008) já era um filme bem complicado, mas este novo Amat Escalante é realmente algo deplorável, de um sadismo injustificável, de uma visão de mundo torpe, em que o homem pode apenas gerar ao outro dor, mal, horror - um horror, um mal, uma dor, claro, embaladas em uma estética rigorosa e afinada ao circuito de festivais. Para Escalante, não há nada mais a registrar do que o sofrimento. É, na verdade, algo bem previsível. Pois, aos poucos, sabemos que o que vai acontecer em cada plano é sempre o pior possível e imaginável - o pior possível e imaginável no que diz respeito aos personagens porque a imagem é sempre bonita, bem enquadrada, elegante e toma seu tempo, longo, sem cortes. Fica a dúvida: sabemos que os personagens são um pretexto, mas quem é a protagonista deste filme, a violência ou a imagem? Se pegamos a cena da tortura do cadete, como é possível entender as opções de Escalante? Expressar uma visão pessoal sobre o México atual? Colar-se a experiência do personagem? Longe disso, parece-me. O filme quer condenar a violência, ok. Mas, para fazê-lo, o cineasta decide explorá-la?! Ao longo da sessão, pensei muito em "Jaula de oro" (2013), o belíssimo e doído longa de Diego Quemada-Díez sobre três jovens da Guatemala que passam o diabo na tentativa de imigrar para os EUA. Quer dizer: não é uma questão de temáticas, mas de visão de mundo e cinema.

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