terça-feira, junho 17, 2014
olhu nu **
Fiquei um pouco decepcionado com este filme. "Olho nu" é veloz. As músicas se sucedem vertiginosamente, bem como a presença impactante, misteriosa, indecifrável de Ney Matogrosso, que nos chega sempre em breves fragmentos, em uma espécie de estética do coito-interrompido. Joel Pizzini não nos dá tempo nem para nos instalarmos em determinada imagem nem para saborearmos certa informação biográfica. "Olho nu" parece-me um filme em crise de identidade, entre um documentário mais biográfico-informativo e um ensaio de imagens mais expressivas e "experimentais". As aspas não são a toa. "Olho nu" funciona como versão mais "comportada" ou "conformada" (aspas, mais uma vez) de certo jogo de auto-elogio da figura transgressora e desviante do artista e de uma suposta liberdade de linguagem que soa na grande maioria das vezes como um dejá vú. Isso porque se boa parte do cinema ensaístico e experimental procurava criar efeitos estéticos de transgressão e de negação, com a finalidade de ameaçar a recepção alienada da realidade e propor novas formas de fruição, hoje, essa negação e essa proposição se tornaram por si só algo estéril, sendo apenas mais uma maneira de atrair atenção e intensificar a mesma alienação a qual desejavam inicialmente se opor.
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