Penso muito também na associação com Antonioni. Em "Que horas são aí?" acompanhamos personagens solitários caminhando por quadros urbanos e arquitetônicos despersonalizados. Eles vagam vagarosamente, sem finalidades mais objetivas. Eu, contudo, não consigo ver ali somente um mundo de disjunção e incomunicabilidade, o mundo do apocalipse vindouro. Pra mim, o que fica destas sequências não é a pulverização do individuo no concreto impessoal, mas a possibilidade ao mesmo tempo latente e impossível de um encontro. O que mais impressiona neste filme é como Tsai consegue construir uma espécie delicada de suspense em que cada plano vive justamente essa possibilidade.
segunda-feira, junho 16, 2014
que horas são aí? ***
Ansioso por seu novo filme ("Cães Errantes"; será mesmo que estréia no Rio?), revi não tem muito tempo "Que horas são aí?" (2001). É mesmo um belíssimo filme. Algumas cenas ficaram comigo. Hsiao-Kang batendo o relógio na passarela é uma delas. Porque ele faz aquilo? Porque rimos daquilo? Que sentido ou significado pode ser intuído a partir dali? Difícil. Aquilo é tão despropositado, sem história ou justificativas - como o choro de May em "Vive L'amour" (1994). Tsai busca sempre a erupção e a vidência do presente, da duração, da consciência deste presente e desta duração. O presente como ruptura. O presente como um impasse. O acontecimento rompe a serialidade linear, traga a história pela urgência de viver aquela situação tão aparentemente banal. Este banal, contudo, acontece e está acontecendo com uma força tal...
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