Ou seja: a arte não nasce como uma apreciação ou um julgamento do mundo, mas como um processo dinâmico e perpétuo de criação, recriação e experimentação de um mundo. Um processo que implica uma simultaneidade de presença e ausência, visibilidade e invisibilidade, perfeição e inacabamento, totalidade e abertura, tecido conjuntivo e diferenciado do mundo. Uma experiência irredutível à generalização, experiência que, justamente por situar-se além de nossas possibilidades, força a pensar, em uma unidade aparentemente paradoxal entre o passageiro e efêmero por natureza e o fora do tempo, sempre idêntico a si mesmo. Algo que Alberto Caeiro, um dos heterônimos mais famosos e constantes do poeta Fernando Pessoa, soube como poucos descrever:
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo.
(Caeiro, 1997: 89)
A eterna novidade do mundo. Esta talvez seja a promessa que todas as artes carregam no horizonte.
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