quinta-feira, novembro 27, 2014

debi e lóide 2 ***

Era de se esperar. Mas não teve jeito. Fiquei um pouco chateado com a críticas que saíram a respeito do mais novo filme dos irmãos Farrelly. Vejam duas aí abaixo, uma escrita por Alexandre Agabiti Fernandez para a "Folha" e a outra assinada por Mario Abbade para "O Globo". O primeiro jamais gostaria do filme. O segunda em hipótese alguma deixaria de gostar dele. Nenhum deles faz jus ao que vi.

Alexandre diz que o que mais o incomoda é a fixação por matéria fecal e flatulência, que "as piadas envolvendo cocô e puns não aborrecem pelo mau gosto que, em si, podem resultar em graça, mas pela infantilidade: só divertem quem ainda não superou a fase anal, um dos estágios do desenvolvimento psicossexual da criança". Sério: isso aí é de uma ignorância... Que dizer então que quem ri de um pum... Mario, por sua vez, diz que "o humor pode ser irônico, refinado, inteligente, mas também anárquico e sem limites" e que os irmãos são um exemplo do último grupo. Em primeiro lugar, porque o "mas"? Em segundo, não seriam os Farrelly irônicos, refinados e inteligentes? Mario ainda arrisca uma afirmação que em hipótese alguma ele pode realmente comprovar: "Debi e Lóide 2" seria uma tentativa de repetir os sucessos de bilheteria do início da carreira. Tanto Alexandre quanto Mario dizem que a trama repete a receita do primeiro. Onde? Para Alexandre a trama ainda seria um mero pretexto? Como assim?

"Debi e Lóide 2" é uma comédia radical. A estupidez dos personagens é levada a um patamar nunca antes alcançado. É uma coisa realmente virtuosa. E não uso o termo de maneira inocente. Ao contrário: a estupidez se transforma em uma virtude. Ela é a maior qualidade dos personagens. É o que os tornam imunes a arrependimentos, que os faz se surpreenderem continuadamente. É o que os levam a dizer sim para o chamado do mundo.  Quer dizer: não se trata apenas de uma comédia distante do "politicamente correto", tampouco de baixo nível ou meramente escatológica. "Debi e Lóide 2" é um filme subversivo, desfila uma riqueza impressionante de detalhes, um cinema narrativamente muito bem construído, e uma visão de mundo mais crítica e aberta.


 Crítica: Vinte anos depois, Debi & Lóide voltam mais ridículos e infantis
ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Duas décadas depois do estrondoso sucesso de público de "Debi & Lóide - Dois Idiotas em Apuros", Jim Carrey e Jeff Daniels voltam como a dupla de palermas mais carismática dos últimos tempos.

Novamente sob a direção dos irmãos Bobby e Peter Farrelly, os dois enchem a tela com uma enxurrada de gags que certamente deliciará o espectador que se diverte com a estupidez.

O novo filme é uma farsa baseada na mesma receita do anterior —a humilhação de alguém feita com candura—, em que a trama é mero pretexto para os esquetes.

A diferença é que os protagonistas estão vinte anos mais velhos, o que os torna um pouco mais ridículos.

Debi (Daniels) e Lóide (Carrey) se reúnem com a missão de encontrar Penny (Rachel Melvin), a suposta filha de Debi cuja existência ele acaba de descobrir. A busca os leva a um longo périplo rodoviário, como no primeiro filme, palco de boa parte da baderna armada pela dupla.

O ponto culminante da viagem acontece durante um simpósio que reúne cientistas e inventores.

FASE ANAL

O humor físico da dupla tem seus altos e baixos —algumas gags, como a da moita, são repetidas além do razoável—, mas o que mais incomoda é a fixação por matéria fecal e flatulência, outra de suas marcas registradas.

As piadas envolvendo cocô e puns não aborrecem pelo mau gosto que, em si, podem resultar em graça, mas pela infantilidade: só divertem quem ainda não superou a fase anal, um dos estágios do desenvolvimento psicossexual da criança.

Moral da história: na categoria do humor ingênuo e histriônico, cheio de pancadaria e caretas, clássicos como "Os Três Patetas" e "O Gordo e o Magro" continuam insuperáveis.


Mario Abbade
o globo | 13:36h | 12.nov.2014

Para rir do início ao fim
 Um dos gêneros mais complicados é a comédia — não à toa, cineastas e atores vivem apregoando que fazer rir é bem mais difícil que fazer chorar. E, nesse universo complexo, há enormes diferenças. O humor pode ser irônico, refinado, inteligente, mas também anárquico e sem limites. Os irmãos Bobby e Peter Farrelly são um exemplo do último grupo, com filmes que encarnam a antítese do hoje tão falado politicamente correto. Eles se firmaram como reis do estilo nos anos 90, com longas como “Kingpin — Estes loucos reis do boliche”, “Quem vai ficar com Mary” e “Eu, eu mesmo e Irene”. O começo veio justamente com “Debi & Lóide: dois idiotas em apuros” (1994), que virou cult com produtos que vão de action figures e smokings coloridos até uma capa para transformar o carro no “mutt cutts”, espécie de batmóvel da dupla, que lembra um cachorromóvel. Mas os irmãos Farrelly não vêm conseguindo o mesmo sucesso: suas produções se pagam, mas não chegam a campeãs de bilheteria. “Debi & Lóide 2” é uma tentativa de recuperar a coroa.

A trama acontece 20 anos após o fim do primeiro filme. E reúne novamente Jeff Daniels (hoje ligado a produções mais artísticas) e Jim Carrey (que não vem dando sorte no box-office), que embarcam em mais uma road trip. “Dumb and Dumber to” (no original) tem o que apreciador do estilo espera: nonsense e ingenuidade que beira a estupidez. Isso embalado em situações hilárias, que parecem agressivas em certos momentos, mas fazem parte da maneira inocente como os personagens veem o mundo. E conseguir manejar isso, extraindo humor sem ser ofensivo, requer a tal habilidade que muitos só enxergam nas comédias sofisticadas.

O filme só não é perfeito em sua proposta por ter optado por uma história muito parecida com a primeira. Mas, em time que está ganhando, não se mexe — com direito a cena pós-créditos que corrobora essa intenção.

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