“Neil Young - Heart of Gold” não é apenas um show filmado. É como um testamento. As músicas se conjugam sempre na primeira pessoa do singular. Odes panteístas à família, à amizade. "I want to live/I want to give", confessa Young em seus primeiros versos. Gravado em um momento de luto - Young estava com um aneurisma e seu pai havia morrido poucos meses antes do diagnóstico - o show alterna canções mais recentes e o material mais antigo em uma espécie de panorâmica da vida do cantor e campositor. "Quando comecei a tocar”, diz ele, “eu criava galinhas. Eu devia ter uns sete, oito anos. Talvez um pouco mais. E ganhei um ukelele de plástico de meu pai. E eu não sabia o que fazer com ele. Meu pai disse: ‘Talvez você precise disso’. E cantou uma canção para mim que eu nunca tinha ouvido antes. Ele ficou me olhando, com um sorriso engraçado no rosto. Fiquei olhando para ele. E então tive que ir cuidar das galinhas". Uma celebração. Uma celebração doída, é verdade. Jonathan Demme intui um tom. Poucos movimentos. Poucas angulações. A câmera acompanha com delicadeza. O filme se faz em um íntimo imbricamento com a música e nos convida a um outro tipo de fruição. Young no palco é como uma força da natureza. Solta no espaço. Tudo que ele toca se torna seu, seu e de mais ninguém. Isso tem nome. Verdade!
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