- Seu cinema se move em uma mistura bem particular de melodrama e realismo social, com muita paixão por seus protagonistas e o desejo de falar de uma “verdadeira” Manila.
- O realismo de Brocka não se define apenas pelo seu conteúdo social. Pode também ser entendido como uma nova forma de realidade, errante, operando por blocos. O real não é reproduzido, ele é visado pelo filme.
- Talvez seu filme mais famoso seja “Manila nas garras de neon”. O longa conta a história de um rapaz provinciano que segue para Manila atrás da namorada que havia desaparecido.
- Ao mesmo tempo em que aposta em um realismo colocado nos corpos, à flor da pele (com a ajuda do fotógrafo Mike de Leon, que mais tarde passaria à direção), Brocka torna possível uma leitura simbólica do filme. O nome da menina raptada significa paraíso. O do rapaz diz paciência. O nome do dono do bordel (Ah tek) soa como a palavra dinheiro
- O fascínio por personagens talvez seja a maior virtude de Brocka. O curioso é a atenção dado aos personagens não é bem equilibrada, como se o cineasta gostasse de uns (como o protagonista Julio) e não de outros (como a mulher que recruta meninas para o bordel), como se uns merecessem sua compaixão e outros o seu desprezo.
- Prestem atenção na roda de amigos de Julio. É interessante o fato de antigos companheiros se tornarem opressores uns dos outros dependendo da circunstância. Um golpe de sorte pode mudar a situação do sujeito nessa hierarquia dos infernos.
- É uma tragédia de personagens que atuam contra e em seu espaço e que ainda tenta nos instalar em um universo narrativo que nos prende nas pequenezas clássicas de um melodrama. As pessoas costumam esquecer que o melodrama não diz respeito apenas a excessos dramáticos e histórias teatralizadas, mas trata sempre de questões cotidianas.
- Brocka não tem medo de sentimentalismos. O amor que sente por seus personagens e a urgência com que o filme os acompanha jamais deixa as situações caírem no ridículo. Muita gente chora vendo seus filmes. Mas não se trata apenas de chorar e sim de como e por que as pessoas choram. Brocka nos deixa com a impressão de que o mundo cisma em tornar impossível os desejos de seus personagens.
- Essa impossibilidade é importante. O cinema de Brocka está sempre a nos revelar a inexistência de uma fronteira entre o privado e o político, mas também a impossibilidade de viver nessas condições, para o colonizado que esbarra num impasse a cada direção que toma. Este é certamente um aspecto que aproxima Brocka do nosso cinema novo.
- O último plano do filme impressiona. Julio encurralado em um beco sem saída, cercado por todos os lados. Ele e nós sabemos o que está para lhe acontecer. Pela primeira vez no filme, Julio sabe o que vai acontecer e seu rosto estremece num terror difícil de esquecer.
2 comentários:
OLÁ JULIO,
PSRABÉNS PPELA BELÍSSIMA POSTAGEM.
ALTO NÍVEL !!!
NÃO CONHECIA O SEU BLOG.
ACHEI REALMENTE, MUITO INTERESSANTE E TENHA A CERTEZA DE QUE VOLTAREI SEMPRE AQUI.
TAMBÉM, APROVEITO PARA CONVIDAR VOCÊ A CONHECER O MEU BLOG:
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A CRÔNICA DESTA SEMANA É SOBRE UM TEMA QUE DESPERTA CONTROVÉRSIAS E MUITA SENSUALIDADE..
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