quarta-feira, setembro 15, 2010

sempre bela ****


"Sempre bela" é uma delícia de filme. Manoel de Oliveira vem mais uma vez nos mostrar como uma “simples” coreografia de corpos no espaço pode criar uma apresentação diferente e toda particular da ação de uma cena (vejam a seqüência abaixo). Oliveira faz uso de portas, janelas, e espelhos para marcar zonas de ação, no jogo do equilíbrio e do desequilíbrio do quadro, no avanço ou no recuo dos personagens em relação à câmera. O mestre português ainda trabalha com as laterais do quadro, no dinamismo do primeiro plano e nos vazios das linhas de frente, no velar e no desvelar do fundo. Oliveira não deixa nada a dever aos grandes pintores. É inebriante como o bom velinho do cinema contemporâneo se lambuza na absoluta insignificância de um filme tão aparentemente banal. O que fica de seus filmes é a produção de uma espécie de transparência que não é somente narrativa ou representativa, mas talvez, sobretudo, da ordem da intensidade. Mais do que uma homenagem a Luis Buñuel, “Sempre bela” é uma festa, uma celebração ao cinema.

Nenhum comentário: