domingo, maio 08, 2011

amor? *


"Amor?” é um filme autodestrutivo. Atores famosos recontam depoimentos sobre histórias de amor que o filme insiste em nos dizer que são verdadeiros. A voz do diretor, suas perguntas, nem sempre são, no entanto, ouvidas, o que me parece já de saída meio estranho. Seguem-se angulações inusitadas de uma mesma entrevista, seqüências intermináveis em super 8, cenas abstratas de sexo e nudez, e “Carinhoso” em versão Sax. Em determinada história, duas atrizes se revezam nos mesmos papéis. Diante disso, faço minha a pergunta feita pelo Fábio de Andrade lá na “Cinética”: o que ganha o filme com a encenação? Nada. Muito pelo contrário: a encenação de João Jardim, muito pouco verdadeira, tende a me afastar das histórias.

Vez ou outra surgem legendas na tela para nos lembrar que determinado gesto ou acontecimento (um celular que toca) realmente aconteceu. Por que isso? Pra mim, essa legenda, muito pelo contrário, nos distancia de uma suposta veracidade daquilo que nos é mostrado. Eu fiquei pensando em Bazin. Pois foi ele quem disse que o realismo no cinema se baseava, não em um entendimento físico da realidade, mas em uma noção psicológica. Quer dizer: o realismo não tem a ver com a acuidade da reprodução, mas com a crença do espectador na origem da reprodução. Para Bazin, a matéria-prima do cinema não é a própria realidade e sim a impressão da realidade deixada na película. Qualquer filme cujo objetivo seja realista, no sentido de colocar a imagem em íntima relação com seu objeto, deve permitir ao evento dramatizado desvendar-se por sua própria conta e assim sinalizar-nos que a imagem que estamos vendo está geneticamente ligada ao evento filmado. “Amor?” nos interdita isto.

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