quarta-feira, maio 25, 2011

reencontrando a felicidade **


“Reencontrando a felicidade” é o terceiro longa de John Cameron Mitchell (“Shortbus” e “Hedwig”). Desta vez, ele é diretor contratado – entrou no projeto convidando por Nicole Kidman, que também assina como produtora. Mas o fato é que “Reencontrando a felicidade” lembra em seu melhor os demais filmes de Mitchell. Como “Shortbus” e “Hedwig”, o cineasta filma com muita leveza, trabalhando seus personagens com elegante discrição. A câmera é quase invisível, sempre à serviço dos atores. Mitchell imprime à sua maneira um ritmo flutuante, com picos de intensidade dramática que surgem sem muito alarde. Em alguns momentos, o filme se tornar surpreendentemente divertido, dadas as circunstâncias, em um humor nasce a partir de observações a respeito da natureza humana. Indicada ao Oscar, Nicole Kidman é outro ponto a favor do filme. Em uma interpretação exuberante, ela optou, astutamente, por sublinhar duas feições de Becca: sua raiva incontida e a consciência de que isso não a levará muito longe. A cada seqüência vemos uma personagem que não tem idéia do que fazer, mas sabe que tem de fazer alguma coisa. “Reencontrando a felicidade” afirma mais uma vez um certo cinema da comunhão de Mitchell. O cineasta gosta de personagens tristes, mas jamais niilistas ou cínicos. Eles estão sempre atrás de uma saída, em busca da vida. Um cinema marcado por tragédias, mas disposto a seguir adiante delas.

Talvez o maior problema deste filme seja a auto-consciência deste projeto de comunhão, um certo esquematismo que já dava as caras vez ou outra nos trabalhos de Mitchell e que agora ganhou a maioridade. “Reencontrando a felicidade” é um filme bem comportado, cristalino. A confusão de seus personagens é vista e encenada de maneira imperturbada. Em um longa sobre um casal reagindo à trágica morte de seu único filho, faltam emoções genuínas. A montagem vem embalada em cadeias explicativas. Becca e Howie encontram saídas no mesmo exato momento do filme. Em determinados momentos, Mitchell mais parece um burocrata. E essa burocracia impede que “Reencontrando a felicidade” seja o que pretende: um filme sobre a complexidade da vida, a inconstância das coisas a nossa volta, a memória e o tempo.

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