Eu queria bastante que “Natimorto” fosse um bom filme. Gosto muito de Lourenço Mutarelli, um cara chegado a confissões, que torna verdadeiro tudo que toca, e que jamais nos dá o poder de absolvê-lo. Sempre me pergunto como é possível alguém ter tanta consciência de si mesmo, mas distanciar-se o suficiente para tornar abstrata a sua profunda, extrema e única experiência de vida. “Natimorto”, no entanto, um pouco como “Cheiro do ralo” (outra adaptação de Mutarelli), é um mergulho por demais seguro, controlado, higiênico. Os diálogos entram mal nos ouvidos, reproduzidos, parece, direto do texto original. O jogo de luzes, as contra-ponglés, o grão da fotografia, o vai-e-vem da narrativa, são, pra mim, como um perfex. As vísceras do personagem, seu processo de decomposição, se transformam em algo palatável. Mutarelli precisava de um cineasta como Abel Ferrara.
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