Eu me diverti muito vendo este filme, o último de Claude
Chabrol. O cineasta é de uma elegância ímpar. O espaço é seu campo de trabalho.
Jamais um personagem se encontra a direita do quadro de maneira indiferente.
Muito pelo contrário. “Bellamy” (2009) é uma espécie de suspense psicológico,
mais um capítulo da filmografia deste cineasta, um dos maiores caricaturistas
da classe média francesa. Nele, Gerard Depardieu vive o Inspetor Paul Bellamy. Em
plenas férias, ele é procurado por um homem que se diz responsável pela morte
de outro homem. Enquanto isso, Bellamy recebe a vista de seu irmão. Françoise é
como seu oposto: inseguro, mau caráter, mal sucedido...
Aos poucos, vemos uma sucessão de duplos não somente do
protagonista (seu irmão), como também do homem que o procurou. E o duplo não é
visto como um outro, mas como uma espécie de modalidade de sua própria
existência. Compreende-se então que, mais importante do que a resolução do caso
de assassinato, é reconhecer que Bellamy poderia estar do outro lado desta
história, poderia ser ele o assassino. Jean Douchet disse certa vez que a
grande questão do cinema de Chabrol é a do ser e ter. O que o personagem quer
ter para poder ser? E o problema é que quanto mais ele quer ter, menos ele é. Ao
fim, em geral, o personagem é como um monstro, completamente embriagado pelo
ter. E consciente disto. Bellamy, contudo, talvez seja diferente. Não sabemos.
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