terça-feira, julho 17, 2012

bellamy ***


Eu me diverti muito vendo este filme, o último de Claude Chabrol. O cineasta é de uma elegância ímpar. O espaço é seu campo de trabalho. Jamais um personagem se encontra a direita do quadro de maneira indiferente. Muito pelo contrário. “Bellamy” (2009) é uma espécie de suspense psicológico, mais um capítulo da filmografia deste cineasta, um dos maiores caricaturistas da classe média francesa. Nele, Gerard Depardieu vive o Inspetor Paul Bellamy. Em plenas férias, ele é procurado por um homem que se diz responsável pela morte de outro homem. Enquanto isso, Bellamy recebe a vista de seu irmão. Françoise é como seu oposto: inseguro, mau caráter, mal sucedido...

Aos poucos, vemos uma sucessão de duplos não somente do protagonista (seu irmão), como também do homem que o procurou. E o duplo não é visto como um outro, mas como uma espécie de modalidade de sua própria existência. Compreende-se então que, mais importante do que a resolução do caso de assassinato, é reconhecer que Bellamy poderia estar do outro lado desta história, poderia ser ele o assassino. Jean Douchet disse certa vez que a grande questão do cinema de Chabrol é a do ser e ter. O que o personagem quer ter para poder ser? E o problema é que quanto mais ele quer ter, menos ele é. Ao fim, em geral, o personagem é como um monstro, completamente embriagado pelo ter. E consciente disto. Bellamy, contudo, talvez seja diferente. Não sabemos.

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