sábado, maio 18, 2013

debate são paulo 2


Ainda em São Paulo, pouco antes do debate começar, um senhor fez graça comigo e o mestre Inácio Araújo sobre uma cena de “Paixões que Alucinam” (1964): enfermeiros seguram Johnny Barret, que, amarrado à cama, está prestes a passar por uma sessão de choques elétricos. “Ora, se fosse de verdade, os enfermeiros também receberiam as cargas elétricas. Será que o Fuller não sabia disso?”. Eu acho curioso como uma pergunta simples e inofensiva como esta é capaz, se levada a sério, de revelar particularidades interessantes do cinema de Fuller, talvez do cinema em geral. Quer dizer, o senhor do debate tem razão: os enfermeiros também levariam os choques – lembro também que meu pai, professor e psicanalista, não conseguiu gostar de “Paixões que Alucinam”; “A loucura dos personagens, as sessões de análise, é tudo muito caricato”, disse ele. A impressão é a de que, para Fuller, estamos no plano dos detalhes. Na verdade, não sei se é bem isso. Fuller é bem detalhista quando o assunto é a trama, o personagem. Talvez seja melhor colocar desta forma: sua preocupação maior não é exatamente uma certa fidelidade à realidade, mas a precisão dramática. Ou seja: os enfermeiros segurarem o paciente, torna a cena ainda mais verossímil e intensa. Em cinema, verossimilhança é questão dramática. O próprio Fuller dizia ter alguns problemas coma encenação da guerra. Um tiroteio, dizia ele, não durava mais do que dois minutos. As pessoas morrem rápido. Em um filme, não há como narrar um confronto em menos de dois minutos. Fuller tinha consciência disso. 

Nenhum comentário: