Ainda
no debate em São Paulo, o Luiz Carlos Oliveira Jr descreveu duas das
características mais marcantes do cinema do Samuel Fuller: o gosto pelo
plano-sequência e o que ele denominou de “montagem de choque” - esta última
expressão, na verdade, vem dos franceses, da “Cahiers du Cinéma”, dos anos 50.
Na véspera do debate, eu havia revisto “Dragões da Violência” (1957), e essa
noção de “montagem de choque” não me sai da cabeça desde então. A questão, pra
mim, está no “choque”. Não sei mesmo se este é o termo mais adequado.
Fuller
alimenta certamente uma interpretação mais instintiva e original dos conceitos
de continuidade e raccord. Os cortes parecem talvez mais associados a uma ideia
escorregadia de intensidade dramática. O que faz com que sejamos constantemente
surpreendidos. Fuller gosta de sequencias de closes, mudanças repentinas de
escala, descontinuidades espaciais, etc. Sem cerimônia, ele vai de um plano
médio de um duelo entre dois homens, para o close detalhe do olho de um deles.
Eu
compreendo que “choque” tenha sido nos anos 50 um termo apropriado para dar
conta da experiência de ver filmes como “Dragões da Violência”. O cinema
hollywoodiano mais, digamos, hegemônico, via muitos dos procedimentos de Fuller
como “erros”, “idiossincrasias”, como evidências de uma certa primitividade –
até mesmo a “Cahiers du Cinéma” recorreu a estão noção de primitivo. É natural,
portanto, que a montagem de Fuller fosse vista em relação de antagonismo com a
maior parte da produção cinematográfica que lhe era contemporânea, que o
espectador se sentisse genuinamente chocado.
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