Eu não tenho lá muita paciência com o Michael Bay. Tratava-se, contudo, de uma comédia com Mark Wahlberg, e, sobretudo, Dwayne “The Rock Johnson”. Animei-me e fui ver “Sem dor, sem ganho”. Disse não ter muita paciência, mas tenho achado por demais preguiçoso insistir que os constantes deslocamentos temporais e espaciais que marcam os blockbusters americanos seja fruto de uma espécie de amnésia histórica ou de uma indefensável incompetência. Essa é a forma mais tradicional de criticar Bay: ele não saberia decupar, não teria noções de escala ou ritmo, e seus filmes se moveriam sem direção, graça ou sentido.
Eu gosto cada vez mais do termo cunhado por Steven Shaviro, “post-continuidade”, para designar um cinema em que a preocupação com certos efeitos imediatos triunfa sobre qualquer questão a respeito de uma continuidade mais ampla, seja no nível do plano-a-plano, seja no âmbito narrativo. Bay, por exemplo, não é nenhum pouco ingênuo. Para ele, a continuidade não parece mais ser preponderante para delinear a geografia de uma ação, ancorando-a claramente no tempo e no espaço. A sequência torna-se uma colagem de fragmentos irregulares de ângulos, explosões, lutas, perseguições, e movimentos violentamente acelerados. Não há nenhum sentido de continuidade espaço-temporal. O que importa é entregar uma série contínua de choques para o público.
Talvez a abordagem maximalista e impiedosa de Bay tenha menos a ver com a destruição ou a ignorância em relação a uma certa noção de cinema e mais com a ambição de esboçar um outro cinema. Bay está muito claramente interessado no calor do momento, imprime um tom “impressionista” que alimenta uma relação diversa com as noções de personagem, espaço e trama, e não está lá muito interessado nos valores clássicos da continuidade – embora, é preciso dizer, a continuidade ainda persiste em alguns momentos, sendo respeitada ocasionalmente e de forma oportunista.
“Sem dor, sem ganho” não curou minha impaciência, devo dizer. Mas é um filme de questões extremamente importantes. Lugo é um personagem que acredita ser antipatriótico “not go for it”. Que dizer: com esforço e perseverança suficientes devemos nos tornar “super-homens” e viver no luxo. O filme, por sua vez, bate várias vezes na tecla de que o que estamos vendo de fato aconteceu. Bay não julga exatamente seus personagens. “Sem dor, sem ganho” conspira a favor de seus protagonistas. O que não quer dizer que suas ações sejam legitimadas. Algo diferente se passa. O desconforto que algumas situações geram no espectador é logo em seguida diluído em nome de uma certa noção de prazer. Talvez haja cinismo nisso tudo, embora eu tenha minhas dúvidas. Certeza mesmo é a de que Bay é um dos cineastas mais representativos do tempo em que vivemos e do cinema de nossa época.
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