O prólogo, suas durações alongadas, seu tom entre o abandono, o medo e a necessidade de movimento, seu convite à potência do mundo, a liberdade que essa chamada abre... tudo isso reverbera por “Eles voltam”. O filme não apela melodramaticamente para a situação de abandono de sua personagem, tampouco explora abusivamente uma identificação entre ela e os espectadores. O que se busca é muito mais um vinculo marcado por esse desafio arriscado que o mundo nos oferece. Cris nos atrai e nos repele, sem nenhum controle sobre seu destino, sempre ao sabor do filme. A menina carrega com ela um certo mistério, uma força que não se deixa agarrar.
Essa força, essa energia, dá as caras em outros momentos memoráveis: o assentamento, a casa da doméstica e suas filhas, as conversas entre as meninas, a viagem ao centro. Algo nestes momentos escapa ao drama do filme, não parece estar prescrito pelo roteiro ou diretamente ligado à evolução da narrativa. Este algo que escapa tem efeitos não somente realistas ou de verossimilhança, mas também afetivos. O que escapa é algo que surpreende, que nos chama atenção para o tamanho do mundo. E isso, claro, fez um bem danado ao longa.
É visível a falta de recursos – algo que a péssima projeção da sala 2 do Estação só faz sublinhar. Uma certa precariedade percorre o filme e talvez o comprometa em alguns momentos, fazendo nossa imersão tropeçar. Alguns saltos dramáticos, algumas elipses (provocadas ou não pelas dificuldades de produção) também saltam aos olhos, talvez marquem descontinuidades desnecessárias. Acho, contudo, que são coisas pequenas, insignificantes. A perfeição, pra mim, é uma tremenda de uma sacanagem, uma mentira.
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