É bem curioso o curto-circuito que Dante promove em relação à noção de “popular”. Quer dizer: não há como ver um filme destes e não sentir uma proximidade com o mundo, digamos, pop. Mais do que isso: Dante me parece sempre atrás de um público, alimentado por uma vontade de diálogo. Ele não tem nenhuma vergonha de parecer sentimentalóide, melodramático, ou de mau gosto. Ao contrário, Dante conjuga isso com um certo refinamento estético e político. “A Segunda Guerra Civil” é um filme sobre o consumo da guerra, em que a política é nada mais do que um misto de ações e ausências deliberadas.
O relevo está sempre no elemento humano - é preciso sublinhar também a desenvoltura virtuosa com que Dante trabalha seu elenco numeroso. As situações são absurdas, porém absolutamente lógicas. Dante nos leva da comédia à tragédia, passando pela farsa. Ao fim, resta uma crítica à cultura americana feita de dentro. Dante faz parte daquilo que critica. O filme termina com a bandeira americana balançando ao vento, enquanto um repórter em off nos fala do recorde de audiência do episódio final de uma sitcom americana (que acabou influenciando a disputa entre o governador e o presidente). Um pouco antes, o personagem de James Earl Jones discursa sobre como nós (americanos? humanos?) somos como uma obra de arte inacabada, um work in progress; que talvez possamos um dia alcançar nosso potencial, mas que, no momento, ainda pintamos com sangue.
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