quarta-feira, junho 12, 2013

police ***

“Police” (1985) é um Pialat diferente. Um exercício de gênero. Um policial que se recusa a atender as expectativas geradas pela trama, mas sem jamais abandonar algumas imagens e viradas que marcam o gênero. Talvez seja o filme de Pialat onde um início, um meio e um fim se fazem sentir de maneira mais evidente. Afinal, acompanhamos uma investigação policial. Algumas informações e justificativas são necessárias. Às vezes me parece que o filme se ressente um pouco disso, embora a montagem de Pialat, mais comedida do que em seus outros filmes, continue apostando nas elipses, na ausência dos pontos finais. Isso faz com que o desenvolvimento da trama pareça por vezes algo aleatório. Senti-me perdido em alguns momentos, como quando, por exemplo, surge o irmão Noria (Sophie Marceau), que, aliás, sai do filme como entrou, de repente. O tempo é algo difícil de mensurar. Se em um primeiro momento, suspeitamos uma sequencia está em continuidade temporal com a seguinte, em um segundo, cenas mais tarde, percebemos que se passaram meses. O que é incrível é que, ao assumir estes buracos, estas ausências, “Police” nos propõe outra coisa. Eu, por exemplo, comecei a pensar na quantidade de informações desnecessárias de a grande maioria dos filmes policiais, ou thrilers, vomitam em cima da gente. Os atores estão, como sempre em Pialat, incríveis. Vivem personagens extremamente carismáticos que agem de maneira inesperada, inexplicável, condenável. Gosto bastante da primeira cena do filme. Um interrogatório. Lá pelas tantas, Mangin (Gérard Depardieu) vai buscar café em uma máquina no fundo da sala. A máquina faz um barulho estrondoso. O interrogatório é interrompido. A cena, contudo, continua. Qualquer técnico de som, provavelmente até mesmo o de Pialat, reclamaria horrores do barulho. Pialat o integra a cena, como uma espécie de agente, de força, a intensificar, a sublinhar o embate que se desenrola naquele espaço-tempo.   

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