“Police” (1985) é um Pialat diferente. Um exercício de
gênero. Um policial que se recusa a atender as expectativas geradas pela trama,
mas sem jamais abandonar algumas imagens e viradas que marcam o gênero. Talvez
seja o filme de Pialat onde um início, um meio e um fim se fazem sentir de
maneira mais evidente. Afinal, acompanhamos uma investigação policial. Algumas informações
e justificativas são necessárias. Às vezes me parece que o filme se ressente um
pouco disso, embora a montagem de Pialat, mais comedida do que em seus outros
filmes, continue apostando nas elipses, na ausência dos pontos finais. Isso faz
com que o desenvolvimento da trama pareça por vezes algo aleatório. Senti-me
perdido em alguns momentos, como quando, por exemplo, surge o irmão Noria (Sophie
Marceau), que, aliás, sai do filme como entrou, de repente. O tempo é algo
difícil de mensurar. Se em um primeiro momento, suspeitamos uma sequencia está
em continuidade temporal com a seguinte, em um segundo, cenas mais tarde,
percebemos que se passaram meses. O que é incrível é que, ao assumir estes
buracos, estas ausências, “Police” nos propõe outra coisa. Eu, por exemplo,
comecei a pensar na quantidade de informações desnecessárias de a grande
maioria dos filmes policiais, ou thrilers, vomitam em cima da gente. Os atores
estão, como sempre em Pialat, incríveis. Vivem personagens extremamente
carismáticos que agem de maneira inesperada, inexplicável, condenável. Gosto
bastante da primeira cena do filme. Um interrogatório. Lá pelas tantas, Mangin
(Gérard Depardieu) vai buscar café em uma máquina no fundo da sala. A máquina
faz um barulho estrondoso. O interrogatório é interrompido. A cena, contudo,
continua. Qualquer técnico de som, provavelmente até mesmo o de Pialat,
reclamaria horrores do barulho. Pialat o integra a cena, como uma espécie de
agente, de força, a intensificar, a sublinhar o embate que se desenrola naquele
espaço-tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário