Gostei
bastante deste filme - apesar da péssima projeção digital da vergonhosa sala 2
do Estação. É possível perceber o valor dado a uma certa ideia de presença do
mundo, à noção de que as significações em uma narrativa devem surgir como
“expressão natural das coisas”. Caetano Gotardo, contudo, se afirma na
necessidade de uma mediação formalista. É ela que permite que o real se torne
elemento de sua própria fabulação. Eu me lembro da famosa citação de Jean
Mitry, para quem um filme era um mundo organizado em narração.
O
Inácio Araújo disse que era preciso seguir atrás de “O que se move”. Esta ideia
me agrada bastante. Gotardo está sempre atrás de um certo estado, de um certo
plano, onde os sentimentos esforçam-se em uma tentativa de ganhar nome. “O que
se move” é ele mesmo esta busca. É curioso: ver filmes é por vezes como
conhecer uma pessoa. Isto não diz respeito apenas a figura do autor, embora a
presença sentida de um cineasta seja na minha opinião, o fundamento, de
qualquer experiência estética. “O que se move” é uma experiência estética, a
nos empurrar para o plano pantanoso, todo ele regrado, porém de possibilidade
infinitas, da nossa faculdade de sentir. O que este filme nos proporciona é uma
certa sensibilidade para com a realidade. Uma sensibilidade, devo dizer, que se
avizinha a minha: os planos sobre o tempo, o bebê e o presente, o canto... Bom,
a questão da tragédia me incomoda um pouco. Não sei ainda muito bem dizer por
quê. Queria ver o filme novamente.
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