Estava em Belo Horizonte esta semana. Tudo por causa de Maurice Pialat, um dos meus diretores favoritos. O Cine Humberto Mauro abriga uma mostra completa. Já havia visto todos os seus filmes, embora poucos no cinema. Cheguei de ônibus, e, da rodoviária, segui direto para o cinema, para ver “Loulou” (1980), o quinto longa de Pialat. Ao longo da sessão uma palavra ganhou corpo: intimidade. Era algo que os planos carregavam, produziam, disseminavam.
Acompanhamos o desenrolar de um relacionamento, embora sem amarras de um início, um meio e um fim, desprovido de viradas dramáticas ou pontos de exclamação. As ações e os personagens afirmam comportamentos, personalidades, humores. É difícil falar sobre eles. Vemos cenas que para a maioria dos cineastas seria de pouco interesse, como caminhadas, conversas no balcão de um café, personagens ouvindo música ou vendo TV, etc. E mesmo as cenas teoricamente mais "agitadas", como a de um roubo, não são filmadas como se o fossem. Nós, espectadores, corremos atrás do filme, de seus personagens. Tornamo-nos íntimos. Uma intimidade sem conteúdo. Uma intimidade da ordem da experiência mais física, concreta. Entende? Uma intimidade que não se conjuga com a ideia de flagrante. Não se trata disto, ou pelo menos não exatamente. Intimidade tem a ver com uma montagem que se esforça para não concluir seus planos, com uma duração que nos chama mais pra perto, com uma certa noção de câmera viva, como um olhar, como um exercício do olhar. Por vezes, e como isso é curioso, os atores parecem olhar para detrás da câmera, como se esperassem que o diretor determinasse o fim da tomada. Convido-os a perceber estes pequenos momentos. Verdadeiros curto-circuitos, eles não quebram a quarta parece, não desmerecem o realismo aparentemente improvisacional das atuações e direção, não quebram o pacto de confiança que alimentamos com os personagens. Ao contrário.
Além disso, Isabelle Huppert, em seus pouco menos de trinta anos, era já uma beleza.
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