sábado, agosto 17, 2013

inquietos ***

“Inquietos” anda passando na HBO. Acabei revendo algumas partes. A princípio, o filme estaria mais para “Gênio Indomável” do que para “Elefante” (2003). Mas é preciso cuidado. O jovem como mito nunca esteve muito longe do cinema de Van Sant. Em “Inquietos”, ele se aproxima mais uma vez deste universo com muito carinho e uma certa dose de fetichismo. Como ocorre em muitos de seus filmes, o figurino patenteia os personagens (Annabel é uma curiosa citação-homenagem a Jean Seberg e à Nouvelle vague), sempre em relação dissonante com as regras que a sociedade nos impõe. “Inquietos” é uma espécie de balada cinematográfica. Van Sant caminha entre o romance teen e o filme de doença terminal, gêneros com os quais já possui uma certa afinidade, aposta em um ambiente encantador e cria pequenos momentos de excentricidade mágica.

Se em “Encontrando Forrester” e “Gênio indomável” havia um enredo de auto-superação sob a orientação de um adulto, e em “Elefante”, entrava em cena uma espécie de rito de passagem, mas uma passagem de energias, corpos e nuvens, “Inquietos” fica no meio do caminho. O que une os trabalhos mais radicais de Van Sant (de “Gerry” a “Paranoid Park”) é uma mise-en-scène imersiva que se abre para um fluxo sensório temporal e que se sobrepõem à narrativa. São filmes que caminham entre o absolutamente abstrato e um fiapo de história. “Inquietos”, ao contrário, parece muitas vezes se ressentir da necessidade de contar uma história. Os personagens ganham psicologia e suas motivações nos são reveladas, camada por camada, em cenas por demais funcionais (como quando descobrimos o que aconteceu com os pais de Enoch).


Ainda assim, Van Sant parece por vezes querer expressar seus personagens por meio da estilização e do desenho de som, nos oferece momentos dilatados e absolutamente abertos e engajados, procurando passar um sentimento de angústia, descoberta e desespero, através de uma linguagem que beira o poético, sem muito preciosismo. Talvez a grande chave deste filme, como bem sublinhou Eduardo Valente lá na Cinética, seja mesmo Hiroshi, o fantasma camarada de Enoch. Van Sant dá a este personagem um tempo e uma importância que por vezes beira o ridículo, enquanto noutras confere uma força, um desejo comovente de se aproximar e compreender o universo retratado.  

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