terça-feira, agosto 20, 2013

na neblina ***

Eu não tinha gostado muito de “Minha felicidade” (2010), o primeiro filme de Sergei Loznitsa. Eram muitas as razões: um certo fatalismo, o personagem envolto num destino incontornável, alguns cacoetes de estilo, um esforço visível de emulações de outros filmes/cineastas, etc. O que não quer dizer que “Minha felicidade” não tivesse seus momentos. Loznitsa é um documentarista de origem, e sua estreia na ficção carrega uma atenção incomum às locações e cenários. Universos e imaginários são constituídos. É curioso como tanto “Minha felicidade” quanto este mais novo “Na neblina” trazem consigo um desejo norteador, uma certa âncora e ou bússola, que diz respeito a um imaginário russo que remonta à Segunda Guerra Mundial. “Na neblina” é um vislumbre da ocupação nazista na Bielorússia, uma espécie de lenta meditação sobre moralidade e mortalidade. O forte de Loznitsa permanece: seu trabalho faz espaços, elementos de cena, os corpos, falarem. Falarem algo anterior ao filme. É que vejo na primeira sequência do filme. Lembro de Bergson, que dizia, em Matéria e memória, que a fotografia, se há fotografia, já havia sido tirada, no próprio interior das coisas. Além disso, embora no fim a neblina tome conta da imagem, Loznitsa demonstra desta vez muita compaixão por seus personagens.

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