segunda-feira, agosto 05, 2013

zatoichi ***

Outro dia, me toquei que ainda não vi os dois últimos Kitanos: “Outrage” 1 e 2. Se não me falha a memória nenhum dos dois passou no Festival do Rio...

Acabei, contudo, revendo “Zatoichi” (2003). Grande filme. Divertidíssimo. Sempre se falou de como Kitano é capaz de ser violento e sensível ao mesmo tempo, mas, em geral, esquecemos-nos de mencionar o quanto ele pode ser engraçado. Em “Zatoichi”, Kitano é um samurai cego que vive do jogo e de prestar serviços como massagista. Integrante do imaginário popular japonês, Zatoichi já foi tema de mais de 20 filmes entre 1962 e 1989, todos protagonizados pelo herói nacional Shintaro Katsu. A versão de Kitano é inspirada nos contos de Kan Shimozawa e traz o andarilho recém chegado a uma cidadezinha controlada por um clã de malfeitores. Lá ele encontra abrigo na casa de uma jovem e solitária senhora, e acaba ficando amigo do sobrinho azarado dela (brilhantemente interpretado por Guadalcanal Taka) e de um casal de irmãos viajantes em busca de vingança pelo assassinato dos pais.

A história, no entanto, pouco importa. O longa começa e logo estabelece uma relação com o spaghetti western (o personagem kamikaze e andarilho e o cenário lúdico em que a violência explode) e com os filmes de gangster americanos (as violentas ações da gangue Ginzo). Aliás, assim como Sergio Leone fez com o western, Kitano não roda uma aventura de samurais, mas um filme sobre a mitologia de um gênero cinematográfico. O Ronin mercenário, a honra como sentimento máximo, a aldeia indefesa, o herói que tira da deficiência a sua força, os cenários líricos... A comicidade é o que Kitano acrescenta. E assim, ao lado dos tradicionais arquétipos dos filmes de samurai japoneses, o cineasta adiciona um mendigo bêbado ali, uma gueixa transformista aqui, um metrosexual acolá, um menino com problemas mentais que só pensa em se tornar samurai, viciados em jogo, uma apresentação musical à la Stomp, jatos de hemoglobina do tipo “Monty Phyton e o cálice sagrado”... De repente, no meio disso tudo, eis que um bandido, com pavor da habilidade de Zatoichi, saca uma arma de fogo!      

Enfim, “Zatoichi” é um filme híbrido e extravagante.

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