“Planeta solitário” é um filme de visual deslumbrante, desenvolvendo uma curiosa interação entre uma certa noção de confinamento e reclusão e a sensação de algo aberto, livre. Loktev mantém a câmera colada nos atores para depois cortar para a paisagem, majestosa e indiferente. Não deixa de ser estranho o fato de o céu aparecer apenas timidamente, aqui e ali. Os personagens entram e saem de quadro, sem muito alarde. É uma espécie de coreografia o que Loketv se propôs a fazer. É preciso também destacar a singularidade da paisagem deste filme. São montanhas enormes e verdes, nada áridas ou rochosas, e, o que é mais surpreendente, sem árvores. Ela ajuda a intuir uma atmosfera, um tom, algo que nos faz lembrar talvez de um futuro incerto, uma ficção científica. A realizadora aposta no registro de determinadas ações em toda a sua duração, e é dela, dessa duração, de onde a narrativa aflora aos poucos.
De repente, “Planeta solitário”, como “Dia noite, dia noite”, divide-se em dois. Em um determinado momento, o acaso dá as caras, enraizando-se entre Alex e Nica. A resposta imediata dele ao momento inesperado não parece mais nada do que uma reação instintiva básica de auto-preservação. Ela, contudo, e é compreensível que assim o seja, sente-se absolutamente desprotegida. O que eles esperavam um do outro? Alex, Nica e Dato não sabem bem como significar o acontecido. A exploração do paraíso ficou pra trás. Perdeu-se aquela inocência. Uma nuvem de dúvidas e silêncio se apodera do longa. O tempo desacelera. Alonga-se o plano. “Planeta solitário” se transforma em um filme sobre pessoas que não conversam sobre aquele momento. Loktev registra um incidente conflituoso e não tenta resolvê-lo. Consciente de sua incapacidade de dar conta do acontecido, ela nega um olhar mais afirmativo. A virada de “Planeta solitário” está intrinsecamente associada aos papéis e expectativa de gênero, mas, sentir-se mais atraído por um dos lados da dupla, diz muito mais de você do que do filme. A segunda parte de “Planeta solitário” se faz na tentativa de cada um de seus protagonistas darem sentido ao que viveram, retornarem a um determinado equilíbrio. Alex e Nica ensaiam algum diálogo. Dato revela algo de sua história, e nos leva a lugares talvez mais sombrios. O tal “momento de impacto” reverbera, reverbera, reverbera.
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