Gostei muito de “Além da vida”. Como é bom sair do cinema depois de um filme como este. Clint Eastwood. Dá pra contar com o cara. Sempre. É tudo de uma simplicidade, de uma objetividade... Eastwood vai sempre direto ao ponto. A aparência de “Além da vida” é tão unificada e limpa, seu impulso e discurso são tão certeiros, que o filme é exatamente o que ele é. Entendem? Não há espaço para segundas intenções, interpretações estapafúrdias. Não há mensagem ou um projeto.
Em seus filmes mais recentes, a trama sempre vem de um trauma específico (ao contrário dos longas dos anos 90, quando os protagonistas vinham direto das trevas para colocar os pingos nos is). Em “Além da vida”, no entanto, é até um pouco escorregadio falar em trama. Qual é a trama deste filme? Eastwood a reduziu a um jogo entre uma certa idéia de destino (trágico, para os personagem em questão)e uma variedade incontável de sentimentos inomináveis e possibilidades de ação. É esse jogo que move o filme, que o leva adiante. Uma trama feita de barreiras emocionais e personagens (sob muita responsabilidade por suas vidas) relutantes em enfrentá-las.
Tudo isso é devidamente materializado. Tudo isso é para Eastwood uma questão de cinema. Os planos são então vazios, contaminados sempre por uma sensação desoladora. O que vemos do “outro mundo” o qual o personagem de Matt Damon tem acesso são apenas vultos. O que dá sentido a eles é somente aquilo que o personagem diz, numa espécie estranha de terceira pessoa indireta. E mesmo para ele, tudo é muito nebuloso. Eastwood é claro sem ser clarividente. As perguntas permanecem sem respostas. O que muda, talvez, seja a opção que os três protagonistas assumem para si mesmos: tomar as rédeas de suas vidas, amadurecer e seguir em frente. “Além da vida” é um filme sobre os vivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário