segunda-feira, janeiro 17, 2011

van morrison

Lembrei de um momento similar ao descrito posts abaixo, quando, em Foz do Iguaçu, esbarrei num irmão Thin Lizziano. Desta vez, estava com minha esposa no Japão. Mais precisamente, em uma estranha rodoviária da gelada cidade de Fukuoka/Hakata, última parada ao sul do poderoso Shinkansen, o trem bala nipônico. A rodoviária tinha alguns andares, pequenos, como se o Botafogo Praia Shopping fosse um terminal rodoviário. Cada andar apontava para uma direção - algo que ainda hoje não entendo bem como funciona. Estávamos a caminho de Nagazaki, ou seja, terceiro andar, nos disse em mímicas estranhas a bela moça da bilheteria. Fazia frio, eu estava me recuperando de um resfriado, com muita fome, pressa, pouco dinheiro... MacDonald’s, não teve jeito. Enquanto eu aguardava minha esposa na mesa da lanchonete, fui tomado pelo tempo presente. E quem me colou a esse estado corporal de coisas e fatos foi ninguém menos que Van Morisson. Pois é. Dos altos falantes do MacDonald’s, comecei a ouvir “Sweet Thing”, uma de minhas músicas preferidas. De repente, como se levasse um tapa, tudo me chamava atenção: os japoneses tímidos e histriônicos ao mesmo tempo; um senhor sozinho ao meu lado, vestido com um terno e um boné vários números acima do “normal” que mais parecia boiar em sua cabeça; um menino deitado na cadeira saboreava as batatas fritas de olhos fechados, uma por uma; uma adolescente alguns bancos ao fundo comia sozinha, calada, fechada, mas com uma altivez no olhar, como se algo a dissesse secretamente que ela era melhor que todos os outros que estavam por ali; os barulinhos bizarros que meu corpo ainda enfermo ejetava pra fora; a voz rascante de Van Morrison, emocionada e emocionante, surpreendente a cada nova audição, cantando versos como “And I will never grow so old again” e “And I'll be satisfied/Not to read in between the lines”. E no exato momento em que o irlândes dizia “And I shall drive my chariot/Down your streets and cry/'Hey, it's me, I'm dynamite”, virei meu rosto e vi Ana caminhando com uma bandeja na mão, linda, sorridente, como se já estivesse olhando pra mim faz tempo, certa de que eu estava “demais” naquele espaço-tempo ou talvez em outro lugar. Que momento! Que equação: Japão + MacDonald’s + Van Morrison + Ana = Julio mais um tantinho feliz!


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