Vi alguns dos filmes de Kiyoshi Kurosawa no CCBB e andei revendo um ou outro aqui em casa. Kurosawa é um baita cineasta. Um cineasta do espaço, do cálculo, de composições milimétricas, de quebras de eixo. Seus longos planos (estáticos ou então com elegantes movimentos laterais) parecem na maioria das vezes entrecortados por planos menores, mais curtos, porém aparentemente funcionais, com informações importantes para a trama seguir adiante. E o emprego do plano longo não significa uma entrega ao acaso, mas, ao contrário, uma aposta na mise-en-scène. Uma mise-en-scène que respira o rigor geométrico dos espaços. Isso tudo é muito curioso. O olhar de Kurosawa é intermitente. O que se produz é uma certa distância, uma idéia de intervalo, um olhar sempre na incerteza, uma percepção fragmentada. Os filmes de Kurosawa se fazem numa espécie de batimento, numa sucessão irregular de planos, de ausências e fixações, de criação de ambientes e desorientação espacial. É um cinema da opacidade, que, oferecido como um mistério ao espectador, nos deixa por vezes com a sensação fugidia de um brilho do real.
Kurosawa é sempre associado ao gênero do terror, o que não deixa de ser correto, embora todos os seus filmes tenham uma vibração, digamos, mais realista e estejam mais para reflexões sobre os anseios e as náuseas do Japão contemporâneo. Os protagonistas de Kurosawa são gente como a gente. Algo, no entanto, acontece, seja por acaso ou por razões não identificadas. Os personagens são paulatinamente mergulhados num universo asfixiante e estranho, porém realista. Em “Cure” (1997), personagens comuns matam sem causa. Em “Doppelganger” (2003), o protagonista esbarra com o seu duplo. Em “Pulse” (2001), as pessoas começam a desaparecer. Tudo filmado com uma enorme sobriedade. E o que é mais interessante é fato dessas estranhezas, do terror, do inusitado, dos fantasmas, serem, na verdade, uma forma de se atribuir responsabilidade aos personagens. É, por exemplo, o que se passa em “Vítimas de uma alucinação” (2006), em que os protagonistas são cobrados pelo modo como reagem ao que vêem.
No mais, a água viva, nome de um dos melhores filmes de Kurosawa, serve como uma espécie de símbolo deste cinema, fascinante, porém mortal, como um canto de sereia que nos leva encantados para o fundo do mar.
Kurosawa é sempre associado ao gênero do terror, o que não deixa de ser correto, embora todos os seus filmes tenham uma vibração, digamos, mais realista e estejam mais para reflexões sobre os anseios e as náuseas do Japão contemporâneo. Os protagonistas de Kurosawa são gente como a gente. Algo, no entanto, acontece, seja por acaso ou por razões não identificadas. Os personagens são paulatinamente mergulhados num universo asfixiante e estranho, porém realista. Em “Cure” (1997), personagens comuns matam sem causa. Em “Doppelganger” (2003), o protagonista esbarra com o seu duplo. Em “Pulse” (2001), as pessoas começam a desaparecer. Tudo filmado com uma enorme sobriedade. E o que é mais interessante é fato dessas estranhezas, do terror, do inusitado, dos fantasmas, serem, na verdade, uma forma de se atribuir responsabilidade aos personagens. É, por exemplo, o que se passa em “Vítimas de uma alucinação” (2006), em que os protagonistas são cobrados pelo modo como reagem ao que vêem.
No mais, a água viva, nome de um dos melhores filmes de Kurosawa, serve como uma espécie de símbolo deste cinema, fascinante, porém mortal, como um canto de sereia que nos leva encantados para o fundo do mar.
Uma entrevista:
Uma cena de "Pulse":
Uma cena de "Seance" (2001):
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