Este filme de Hou Hsiao-hsien é incrível. Os longos planos-sequência são aqui combinados com uma montagem mais atmosférica e não linear (que daria o tom de seus filmes subseqüentes). A impressão é de que os planos jamais terminam, mas se metamorfoseiam, sempre invadindo o seguinte. O curioso é que, ao mesmo tempo em que privilegia-se uma noção de fluxo, a montagem produz a todo momento interrupções e descontinuidades temporais, espaciais, e de instâncias narrativas. A câmera quase sempre fixa e de frente para a cena parece descolada da ação que ela registra, mas os personagens sentem-se livres o suficiente para desrespeitar os limites do quadro. É como se câmera e personagens fossem auto-suficientes. E essa sensação está afinadíssima com o que se passa na tela, a história de uma nação sempre à beira da evaporação.
E mais: os enquadramentos pictóricos (quase sempre muito pensados, conscientes de si mesmos), uma certa intenção minimalista (quanto menos melhor), atuações na maioria das vezes num tom dramático acima do esperado (como se por vezes as interpretações estivessem fora de sync com as imagens), a compressão elipítica das relações interpessoais que povoam o filme, e as disjunções provocadas pela surpreendente técnica narrativa do cineasta (sempre indo e vindo, convocando todos os personagens a darem seus testemunhos). Hsiao-hsien envolve o espectador emocionalmente, embora deixando-o intelectualmente responsável pela reconstrução das diversas camadas narrativas que desfilam pelo filme.
* fui rever este filme lá no CCBB e fiquei bem chateado quando vi que ele seria exibido em DVD...
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