quinta-feira, abril 28, 2011

serge daney

"Continuamos a opor termo por termo a encenação (ficção, reconstituição) ao direto (documentação feito ao vivo). Aos excessos de uma encenação fetiche, herdada da cinefilia dos gêneros hollywoodianos, continuamos a opor os méritos do direto, do espontâneo, do vivido, do natural – tudo o que se tornou possível pelo progresso da técnica e que culmina com o “cinema-verdade” dos anos 1960. Essa oposição é um truque. Falando em termos políticos, mesmo “politistas”, é preciso dizer que a burguesia não tem apenas o monopólio das imagens filmadas da realidade, ela tem – prioritariamente para qualquer filme – o monopólio da encenação dessa realidade. Uma cidade, uma sala de cinema, uma clínica são já encenação. Existe de antemão um modo de usar o tempo e o espaço que eles circunscrevem, percursos obrigatórios, os limites e as proibições. Em última análise, é esse modo de utilização que é político (no sentido em que reforça um poder). Quando um cineasta filma esse espaço “ ao vivo” ou o “naturaliza” em uma ficção, n”ao o deixa livre, no entanto, dessa primeira encenação, tanto mais forte porque permanece despercebida, porque existe antes da encenação e, muitas vezes a condiciona. O contrário de uma encenação, não é o direto selvagem, mas uma outra encenação. O contrário do direto não é uma encenação, mas um outro direto. Diverso porque implica uma nova percepção, uma nova posição (espacial, moral, política) do filmador diante daquilo que filma" ("A rampa", pág. 74).

terça-feira, abril 26, 2011

o mundo ****


Gosto muito de “O mundo”, de Jia Zhang-ke. “O mundo” é, na verdade, o nome do parque temático onde trabalham os personagens do filme. Nele, pode-se visitar imitações reduzidas de monumentos como a Torre Eiffel, as pirâmides do Egito, o Big Ben, a torre de Pisa, etc. É bem curioso como o parque trabalha seus slogans: “veja o mundo sem precisar sair de Pequim” ou “nos dê um dia e lhe mostraremos o mundo”. Os personagens (que trabalham neste lugar, jamais conheceram os monumentos originais, e parecem viajar apenas através das mensagens de celular) atravessam o parque em uma espécie de trem. Eles mesmos dizem estar indo para a França ou voltando do Japão. A viagem leva apenas 15 minutos. Zhang-ke faz uma releitura toda particular dos road-movies. Mas que mundo é esse? Denílson Lopes responde:

“O mundo no filme não é o alvo de uma crítica social simplista, simplesmente o lado não-mostrado pelo caráter ascético, monumental e pasteurizado dos monumentos transformado em cenário e imagem. Sem ser a apoteose festiva do mundo do simulacro encenada numa Las Vegas repleta de neon em plena comemoração de 4 de julho por Coppola em “O Fundo do Coração” (1982); o parque é também uma possibilidade de uma vida melhor para os seus empregados, é espaço de encontro e de sociabilidade, uma paisagem transcultural bem particular, em que as imagens midiáticas do mundo ganham três dimensões e viram lugares por onde se caminha, trabalha e habita. A ênfase longe do tom aventuresco de Wim Wenders muda para o dia a dia, o dinheiro contado, economizado, os pequenos problemas amorosos e familiares, nada de muito épico ou grandioso, nem nos fatos nem nos personagens. O tom é melancólico, em modo menor, mas ainda há uma aposta, no fim do filme, quando supostamente o casal protagonista, formado pela dançarina Tao (Tao Zhao) e pelo vigia Taisheng (Taisheng Chen),_morre devido a um vazamento de gás enquanto estava dormindo”.

segunda-feira, abril 25, 2011

coisas

Vejam isso:



E, na Caixa Cultural, começa amanhã uma mostra com filmes de Rogério Sganzerla. Mas, cuidado: alguns filmes serão exibidos em DVD. Abaixo, segue a programação:

26 de abril, terça-feira, às 18h30, salas 1 e 2

O BANDIDO DA LUZ VERMELHA (de Rogério Sganzerla, Ficção – 35mm - 92 min – PB, Classificação 16 anos)
Após a exibição do filme, haverá coquetel de abertura

27 de abril, quarta-feira

Sala 1, 17h30

ABISMU (1977). (de Rogério Sganzerla, Ficção e documentário – 80 min – COR . 35mm, Classificação 14 anos)

Sala 1, 19h

TUDO É BRASIL (1998). (de Rogério Sganzerla, Documentário – 35mm – 82 min – COR/ PB, Classificação Livre)

28 de abril, quinta-feira

Sala 1, 17h30

NEM TUDO É VERDADE (1985). (De Rogério Sganzerla, Ficção – 35 mm – 95 min – COR/ PB, Classificação 12 anos)

Sala 2, 19h

SEM ESSA, ARANHA (1970). (de Rogério Sganzerla, Ficção – em DVD (versão original em 16mm) - 96 min – COR. Classificação 16 anos)

29 de abril, sexta-feira

Sala 2, 17h30

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (COMICS) (1969). (de Rogério Sganzerla & Álvaro de Moya – em DVD (versão original em 35mm) - 7 min- COR/PB, Classificação Livre)

HORROR PALACE HOTEL (1978). (de Jairo Ferreira - Codireção e montagem: Rogério Sganzerla, Documentário – em DVD(versão original em Super 8) – 50 min – COR, Classificação Livre)

Sala 1, 19h

BELAIR. (de Noa Bressane e Bruno Safadi, Documentário – 35mm – 80min – COR, Classificação Livre)

30 de abril, sábado

Sala 2, 17h30

DOCUMENTÁRIO (1966). (de Rogério Sganzerla, Ficção – em DVD (versão original em 16 mm) – 11 min – PB, Classificação Livre)

ELOGIO DA LUZ (de Joel Pizzini e Paloma Rocha, Vídeo COR/PB 54 min. 2003, Classificação Livre)

Sala 1, 19h

PERIGO NEGRO (1992). (de Rogério Sganzerla, Ficção – 35mm – 27 min – COR, Classificação Livre)

ISTO É NOEL ROSA (1990). (Documentário – 35mm – 43 min – COR. Classificação Livre).

1 de maio, domingo

Sala 1, 17h30

A MULHER DE TODOS (1969). (de Rogério Sganzerla, Ficção – 35mm - 87 min – PB, Classificação 12 anos)

Sala 1, 19h - Debate

3 de maio, terça-feira

Sala 2, 17h30

A MISS E O DINOSSAURO - Bastidores da Belair 2005. (de Helena Ignez, Documentário – em DVD (versão original em Super 8) – 17 minutos – cor, Classificação 16 anos)

A REINVENÇÃO DA RUA (de Helena Ignez, Documentário, digital, 27 minutos, Montagem Rogério Sganzerla. Classificação Livre)

B2 (de Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi, Ficção – em DVD (versão original em 35 mm) – 11 minutos – PB, Classificação Livre)

BRASIL (1981). (De Rogério Sganzerla, Documentário – em DVD (versão original em 35mm) – 12 min – COR, Classificação Livre)

Sala 1, 19h

ABISMU (1977). (De Rogério Sganzerla, Ficção e documentário – 80 min – COR, 35mm, Classificação 14 anos)

4 de maio, quarta-feira

Sala 1, 17:30

O SIGNO DO CAOS (2003). (de Rogério Sganzerla, Ficção – 35mm – 80 min – PB/COR, Classificação 12 anos)

Sala 1, 19h00

O BANDIDO DA LUZ VERMELHA (1968). (de Rogério Sganzerla, Ficção – 35mm - 92 min – PB, Classificação 16 anos)

5 de maio, quinta-feira

Sala 1, 17h30

COPACABANA MON AMOUR (1970). (De Rogério Sganzerla, Ficção – Exibição em 35mm – 85 min – COR, Classificação 16 anos)

Sala 1, 19h00

NEM TUDO É VERDADE (1985). (De Rogério Sganzerla, Ficção – 35 mm – 95 min – COR/ PB, Classificação Livre)

6 de maio, sexta-feira

Sala 1, 17h30

ABISMU (1977). (de Rogério Sganzerla, Ficção e documentário – 80 min – COR, 35mm, Classificação 14 anos)

Sala 2, 19h00

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (COMICS) (1969). (de Rogério Sganzerla & Álvaro de Moya – em DVD (versão original em 35mm) – 7 min- COR/PB, Classificação Livre)

HORROR PALACE HOTEL (1978). (De Jairo Ferreira. Codireção e montagem: Rogério Sganzerla, Documentário – em DVD (versão original em Super 8) – 50 min – COR, Classificação Livre)

DOCUMENTÁRIO (1966). (De Rogério Sganzerla, Ficção – em DVD (versão original em 16 mm) – 11 min – PB, Classificação Livre)

7 de maio, sábado

Sala 2, 17h30

LINGUAGEM DE ORSON WELLES (1990). (de Rogério Sganzerla, Documentário – em DVD (versão original em 35mm) – 22 min – COR/PB, Classificação Livre)

O PETRÓLEO NASCEU NA BAHIA (1981). (de Rogério Sganzerla, Documentário – em DVD (versão original em 16mm) – 9min - PB, Classificação Livre)

VIAGEM E DESCRIÇÃO DO RIO GUANABARA POR OCASIÃO DA FRANÇA ANTÁRTICA (VILLEGAIGNON) (1976). (de Rogério Sganzerla, Documentário – em DVD (versão original em 16mm) – 17 min – COR, Classificação Livre)

ANÔNIMO E INCOMUM – (Vídeo, 1990, Ficção – 13 min – COR – vídeo, Classificação Livre)

INFORMAÇÃO: H. J. KOELLREUTER (2003, Documentário – 18 min – COR, Classificação Livre)

Sala 2, 19h

SEM ESSA, ARANHA (1970). (de Rogério Sganzerla, Ficção – em DVD (versão original em 16mm) – 96 min – COR, Classificação 16 anos)

8 de maio, domingo

Sala 1, 17h30

TUDO É BRASIL (1998). (de Rogério Sganzerla, Documentário – 35mm – 82 min – COR/ PB, Classificação Livre)

Sala 1, 19h

O SIGNO DO CAOS (2003). (de Rogério Sganzerla, Ficção – 35mm – 80 min – PB/COR, Classificação 12 anos)

sábado, abril 23, 2011

dicas

- Um texto bem legal lá no blog do Cezar Migliorin, para se pensar o capitalismo contemporâneo.

- Uma entrevista bem bacana com o Inácio Araújo publicada no "O povo" e no blog de Camila Vieira.

- Esta terça começa no CCBB a mostra "Cinema brasileiro, anos 2000, 10 questões", com a curadoria do Eduardo Valente, Cléber Eduardo e João Luiz Vieira. Neste link, dá pra ver a programação e os textos do catálogo.

segunda-feira, abril 18, 2011

cultura excitada


Estou cursando uma disciplina na UFF ministrada pela Mariana Baltar. Lemos por lá os dois primeiros capítulos deste livro, “Cultura excitada”, de Christoph Turcke. Eu não o conhecia e confesso não ter gostado muito. Fiquei bastante incomodado com algumas passagens. O Turcke, ao contrário, por exemplo, de Adorno, admite que a indústria cultural é simplesmente inevitável. Mas ele admite isso não sem algum ressentimento. Ele vem de uma herança teórica que costuma atribuir à industria cultural e aos mídia o poder de auto-reificação do homem, tornando-o um simples objeto a serviço da máquina capitalista.

Acho complicado discordar que vivemos em uma sociedade excitada, mergulhada num excitamento contínuo – embora eu não saiba se o efeito desse excitamento possa ser realmente comparado ao das drogas, como parece fazer o Turck. Agora, me incomoda a maneira como ele chega a esse diagnóstico. Porque tantas citações e analogias bíblicas?! Ele estaria comparando esse apego ao excitamento ao fervor religioso? Ou seria uma maneira de dar mais peso ao que ele diz? Para Mariana, esse diálogo teológico diz respeito à própria formação do autor e à tentativa de “atualizar - frente a mudança de paradigma da sensação diagnosticada por ele (essa parte que me interessa mais) - a linha de reflexão de Berkeley (lembre-se, ele um bispo anglicano)”.

O primeiro capítulo traça um panorama de determinados fenômenos de sensação, identificando suas raízes, sua extensão, sua influência. Acho a parte sobre o jornalismo um tanto infeliz. Imprensa quer dizer muitas coisas, comporta uma variedade enorme de discursos e modelos. Não dá para colocar no mesmo saco as coberturas da Segunda Grande Guerra, da Guerra do Vietnam, e das Guerras do Golfo. Por mais que Turck tenha coisas pertinentes a dizer (“Não é mais suficiente que os acontecimentos sejam por si só explosivos, confeccionados de forma chamativa, ou que tenham as manchetes gritadas como nas edições extras de outrora; o meio audiovisual necessita mobilizar todas as forças específicas de sue gênero e ministrar a notícia com toa a violência de uma injeção multissensorial”), ele o faz não sem algumas simplificações.

O segundo capítulo faz uma espécie de histórico dos significados do conceito de sensação da Renascença até a Revolução Francesa. Esse histórico, para o Turck, seria uma maneira de constatar a gradativa constituição de uma sociedade da excitação. O que é estranho é que Turck começa em Aristóteles, passa por Locke e termina em Berkeley. É como se não tivéssemos nenhuma alternativa não dualista, que não hierarquizasse em níveis de importância o intelecto e os sentidos. Turcke pergunta algo que, segundo ele, “ainda não foi respondido a contento: o que ocorreria se os homens fossem tão essencialmente seres sentitivos, de maneira que todas as suas idéias e conceitos a respeito do verdadeiro, do bem, do belo e do divino não fossem senão sensações, ou seja, correspondessem a meras excitações nervosas?” Eu acho que essa pergunta não faz nenhum sentido.

Nas entrelinhas, Turck parece insistir na necessidade de se confrontar essa “cultura excitada”. Eu não entendo bem porque. O cinema contemporâneo (Claire Denis, Pedro Costa, Apichatpong, Abel Ferarra entre outros) que mais gosto, por exemplo, abdica das narrativas totalizantes e aposta no menor. Mas não se trata de fazer oposição a um estado de coisas midiático. O desejo não é pelo contraplano, pelo antagonismo. È um cinema que assumem sua marginalidade, aceita o exílio no interior das práticas cinematográficas majoritárias. Um cinema menor diria Deleuze.

sábado, abril 16, 2011

caché...


Vi “Caché” diversas vezes. Não sei se gosto do filme. Alguns filmes me deixam assim, como se essa não fosse uma questão. O cinema de Michael Haneke pode ser visto como um discurso sobre uma classe-média à beira da dissolução, como um diagnóstico das feridas a arranharem uma idéia humanista de Europa. Sempre disposto a caminhar entre uma premissa um tanto moralizante e uma prática cinematográfica marcada por um certo sadismo para com seus personagens e espectadores, Haneke, como bem disse Cléber Eduardo, é uma espécie de “Dr. Mabuse do cinema contemporâneo”. E, em “Caché”, o seu projeto cinematográfico atinge o ápice de manipulação. Acho, inclusive, que a origem dos vídeos anônimos – que aparentemente funcionam como o gancho narrativo da trama do longa e se misturam sem nenhuma diferença de textura em relação aos outros tipos de imagem que compõem a história – deve ser levada a sério. De qualquer maneira, o que me chamou atenção dessa vez foi a convivência de europeus e argelinos em “Caché”.

É curioso: mesmo nos sendo apresentado como um sujeito dissimulado, mesmo sendo suspeito de ser o autor das fitas anônimas, há todo um processo de vitimização do personagem argelino, enquanto Georges, o francês, o protagonista, é acusado de todos os males do filme. Neste sentido, parece curiosamente haver uma certa nostalgia pelo retorno a uma política bem definida de oposições, em que, teoricamente, se podia distinguir com maior clareza os “mocinhos” dos “bandidos”. E por fim, fica curiosamente a suspeita de um narcisismo europeu às avessas - “Caché”, então, se aproximaria estranhamente de uma cada vez mais vasta produção hollywoodiana empenhada em “compreender” o problema da África (“Diamante de sangue”, “O senhor das armas”, “Jardineiro fiel”, entre outros). Haneke parece situar a Europa como fonte de todos os males sociais do mundo. Uma perspectiva que não deixa de ser eurocêntrica.

quinta-feira, abril 14, 2011

coisas

- Uma nova e bem bacana revista online de cinema: Alt Screen.

- Vejam que legal este Web Doc:

Honkytonk Films – Online screening: Journey To The End Of Coal

- Hoje tem cineclube da Cinética lá no IMS: Ás 18h, Diabo a Quatro (1933), de Leo McCarey, e, às 19h30, "Um Convidado bem Trapalhão" (1968), de Blake Edwards.

- Começou na Caixa Cultural uma retrospectiva com os filmes do cubano Tomás Gutiérrez Alea. Abaixo, segue a programação:

14 de Abril – quinta-feira
17h00 – “Los sobrevivientes” (130min) - Cinema 02
19h30 – “La última cena” (120 min) - Cinema 02

15 de Abril – sexta-feira
17h00 – “Una pelea cubana contra los demonios” (130min) - Cinema 02
19h30 – “Cumbite” (82min)- Cinema 02

16 de Abril – sábado
17h00 – “La muerte de un burócrata” (85min) - Cinema 01
19h30 – “Guantanamera” (105min) - Cinema 02

17 de Abril – domingo
17h00 – “Historias de la Revolución” (81min)- Cinema 02
19h30 – “Fresa y chocolate” (101min)- Cinema 01

19 de Abril – terça-feira
17h00 – “Las doce sillas” (97min) - Cinema 01
19h30 - “Cumbite” (82min) - Cinema 02

20 de Abril – quarta-feira
17h00 – “Hasta cierto punto” (88min) - Cinema 01
19h30 – “La ultima cena” (120min) - Cinema 02

21 de Abril – quinta-feira
17h00 – “Fresa y chocolate” (101min)- Cinema 01
19h30 – “La muerte de un burócrata” (85min) - Cinema 01

22 de Abril – sexta-feira
17hh00 – “Cartas del parque” (88min) - Cinema 02
19h30 – “Historias de la Revolución” (81min)- Cinema 02

23 de Abril – sábado
17h00 – “Hasta cierto punto” (88min)- Cinema 01
19h30 – “Las doce sillas” (97min) - Cinema 01

24 de Abril – domingo
17h00 – “Cine-Revista” (10min) e “Memorias del subdesarrollo” (97min) - Cinema 02
19h30 – “Guantanamera” (105min) - Cinema 02

terça-feira, abril 12, 2011

e-compos

Um texto meu publicado na E-Compos. Basta clicar aqui. Abaixo o resumo:

Este ensaio nasce de uma constatação: o cinema contemporâneo está marcado por uma espécie de nova transnacional. Um cinema que se acha intimamente ligado a uma mudança de olhar lançado ao corpo. O corpo como reflexo, como metáfora, como lugar experimental de representação. A nossa hipótese é a de que a fenomenologia de Merleau-Ponty nos fornece valiosos instrumentos para ampliarmos a reflexão sobre um cinema que explora uma relação corporal com o mundo. O nosso objetivo é discutir essas questões em breves análises de três cineastas contemporâneos: Tsai Ming-Liang, A. Weerasethakul e Karim Ainouz.

quinta-feira, abril 07, 2011

duchamps e pollock

Esta dupla amplia a questão levantada no post abaixo. Duchamp e Pollock partem de princípios e caminhos diferentes para chegarem ao mesmo lugar. Vejam as imagens abaixo. A primeira é um urinol masculino. A segunda mais parece o desenho despretensioso de uma criança. São obras que escapam ao “saber fazer”. A partir de “A Fonte”, não faz mais sentido pensar “o que é a arte?” ou “como fazer arte?”. Ao afirmar aquilo como arte, Duchamp implodiu esses dilemas por dentro. Pollock segue nesse legado de superação da arte, tentando escapar do controle, sem cair no total descontrole, e alcançando um paroxismo no domínio da técnica pouquíssimas vezes igualado.

a fonte

number 8





terça-feira, abril 05, 2011

músicas

Eu tenho ouvido bastante Arvo Part e Ramones. Estranha combinação, não é? Pois estive pensado sobre o compositor estoniano e a banda americana e cheguei a curiosa conclusão de que ambos tem efeitos semelhantes sobre mim, embora por caminhos completamente diferentes. Ouçam as duas músicas abaixo. Ambas me contaminam com uma sensação de liberdade... São tão aparentemente simples... “Fur Alina” é piano e silêncios. “Blitzkrieg Bop” é punk de cartilha, fácil, rápido e contagiante. Qualquer um poderia fazer essas músicas. Qualquer um. E isso é tão bonito, ou, pelo menos, carrega consigo tantas inauditas possibilidades. O curioso é que esse efeito do “qualquer um” é alcançado por Ramones e Part através de caminhos opostos. O primeiro se afirma numa suposta precariedade de seus recursos, na simplicidade crua de sua melodia. O segundo chega àquele “minimalismo” por meio de um domínio obsessivo da técnica; cada silêncio, o tom das notas, tudo foi milimétricamente calculado.

Ramones:



Arvo Part:

domingo, abril 03, 2011

franceses no mam

A Cinemateca do MAM abriga a mostra "Amor à francesa", com filmes de Rohmer, Godard, Truffaut, Bresson, Renoir, Chabrol, Jacques Demy, Max Ophuls, Olivier Assayas... Eu não perderia estes três em especial: "Minha noite com ela" (1969), de Eric Rohmer, "Lola Montès" (1955), de Max Ophuls, e "Um dia no campo" (1936), de Jean Renoir. Vejam a programação aqui.

sexta-feira, abril 01, 2011

passe livre ***


Eu gostei de “Passe livre”. Há tempos não ria tanto no cinema. O filme segue os passos de “Antes Só do que Mal Casado”, que já apontava uma espécie de retorno, das comédias agridoces mais recentes (como “Amor em jogo”) para uma comédia mais chula e grosseira (porém carinhosa) como a de “Quem Vai Ficar com Mary?”. “Passe livre” é claro, direto e agressivo. É bobo? Claro que é bobo. E qual é o problema? Não entendo as críticas (a do “Globo”, por exemplo) que usam esta “baboseira” como critério de análise. Um filme não pode ser ruim por ser bobo. Esta “baboseira” diz respeito ao que os personagens falam e às situações narradas, e isso é apenas uma informação, um dado, um ponto de partida para alguma coisa, uma análise, uma interpretação, etc. Escrever que um filme é bobo e ridículo não basta, não diz muito. E os Farrelly não filmam com um distanciamento cínico. Se seus personagens são infantis e bobos, para pô-los em movimento na telona, é preciso mergulhar nesse universo da baboseira.

O que eu acho ainda mais estranho são as acusações de moralismo (como faz a crítica da “Folha de São Paulo”). Ricky fica com a esposa por livre, genuína e espontânea vontade (e ainda revela para ela que nunca transou com outra mulher) – fiquei pensado que existe hoje não só uma patrulha do “politicamente correto”, como também uma galera que não consegue aceitar um casamento duradouro e feliz ou a crença inabalável em Deus... Logo depois, Fred revela tudo o que fez enquanto esteve livre para não ter que ir a um show com a esposa. E como se não bastasse, para deixar bem claro que o filme não defende ou ataca a monogamia, não possui mensagem e tampouco uma espécie de aprendizado para a classe masculina, ao ver a felicidade dos casais protagonistas, a esposa do personagem de Stephen Merchan pergunta ao marido se ela deveria dar a ele um passe livre. Ele então se imagina transando com uma mulher oriental. O marido dela chega. Ele mata o marido e a mulher. Mata também o vizinho que o viu enterrando os corpos. A polícia chega. Ele é preso e acaba sendo estuprado na prisão. Stephen Merchan se dá então por si e diz: “Sim. Podemos tentar”. Na mente doentia do personagem, os assassinatos e o estupro na prisão valiam a pena. Ele não aprendeu nada com a história dos amigos. E os Farrelly continuam profundamente conscientes de seus objetivos.