terça-feira, abril 26, 2011

o mundo ****


Gosto muito de “O mundo”, de Jia Zhang-ke. “O mundo” é, na verdade, o nome do parque temático onde trabalham os personagens do filme. Nele, pode-se visitar imitações reduzidas de monumentos como a Torre Eiffel, as pirâmides do Egito, o Big Ben, a torre de Pisa, etc. É bem curioso como o parque trabalha seus slogans: “veja o mundo sem precisar sair de Pequim” ou “nos dê um dia e lhe mostraremos o mundo”. Os personagens (que trabalham neste lugar, jamais conheceram os monumentos originais, e parecem viajar apenas através das mensagens de celular) atravessam o parque em uma espécie de trem. Eles mesmos dizem estar indo para a França ou voltando do Japão. A viagem leva apenas 15 minutos. Zhang-ke faz uma releitura toda particular dos road-movies. Mas que mundo é esse? Denílson Lopes responde:

“O mundo no filme não é o alvo de uma crítica social simplista, simplesmente o lado não-mostrado pelo caráter ascético, monumental e pasteurizado dos monumentos transformado em cenário e imagem. Sem ser a apoteose festiva do mundo do simulacro encenada numa Las Vegas repleta de neon em plena comemoração de 4 de julho por Coppola em “O Fundo do Coração” (1982); o parque é também uma possibilidade de uma vida melhor para os seus empregados, é espaço de encontro e de sociabilidade, uma paisagem transcultural bem particular, em que as imagens midiáticas do mundo ganham três dimensões e viram lugares por onde se caminha, trabalha e habita. A ênfase longe do tom aventuresco de Wim Wenders muda para o dia a dia, o dinheiro contado, economizado, os pequenos problemas amorosos e familiares, nada de muito épico ou grandioso, nem nos fatos nem nos personagens. O tom é melancólico, em modo menor, mas ainda há uma aposta, no fim do filme, quando supostamente o casal protagonista, formado pela dançarina Tao (Tao Zhao) e pelo vigia Taisheng (Taisheng Chen),_morre devido a um vazamento de gás enquanto estava dormindo”.

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