Estou cursando uma disciplina na UFF ministrada pela Mariana Baltar. Lemos por lá os dois primeiros capítulos deste livro, “Cultura excitada”, de Christoph Turcke. Eu não o conhecia e confesso não ter gostado muito. Fiquei bastante incomodado com algumas passagens. O Turcke, ao contrário, por exemplo, de Adorno, admite que a indústria cultural é simplesmente inevitável. Mas ele admite isso não sem algum ressentimento. Ele vem de uma herança teórica que costuma atribuir à industria cultural e aos mídia o poder de auto-reificação do homem, tornando-o um simples objeto a serviço da máquina capitalista.
Acho complicado discordar que vivemos em uma sociedade excitada, mergulhada num excitamento contínuo – embora eu não saiba se o efeito desse excitamento possa ser realmente comparado ao das drogas, como parece fazer o Turck. Agora, me incomoda a maneira como ele chega a esse diagnóstico. Porque tantas citações e analogias bíblicas?! Ele estaria comparando esse apego ao excitamento ao fervor religioso? Ou seria uma maneira de dar mais peso ao que ele diz? Para Mariana, esse diálogo teológico diz respeito à própria formação do autor e à tentativa de “atualizar - frente a mudança de paradigma da sensação diagnosticada por ele (essa parte que me interessa mais) - a linha de reflexão de Berkeley (lembre-se, ele um bispo anglicano)”.
O primeiro capítulo traça um panorama de determinados fenômenos de sensação, identificando suas raízes, sua extensão, sua influência. Acho a parte sobre o jornalismo um tanto infeliz. Imprensa quer dizer muitas coisas, comporta uma variedade enorme de discursos e modelos. Não dá para colocar no mesmo saco as coberturas da Segunda Grande Guerra, da Guerra do Vietnam, e das Guerras do Golfo. Por mais que Turck tenha coisas pertinentes a dizer (“Não é mais suficiente que os acontecimentos sejam por si só explosivos, confeccionados de forma chamativa, ou que tenham as manchetes gritadas como nas edições extras de outrora; o meio audiovisual necessita mobilizar todas as forças específicas de sue gênero e ministrar a notícia com toa a violência de uma injeção multissensorial”), ele o faz não sem algumas simplificações.
O segundo capítulo faz uma espécie de histórico dos significados do conceito de sensação da Renascença até a Revolução Francesa. Esse histórico, para o Turck, seria uma maneira de constatar a gradativa constituição de uma sociedade da excitação. O que é estranho é que Turck começa em Aristóteles, passa por Locke e termina em Berkeley. É como se não tivéssemos nenhuma alternativa não dualista, que não hierarquizasse em níveis de importância o intelecto e os sentidos. Turcke pergunta algo que, segundo ele, “ainda não foi respondido a contento: o que ocorreria se os homens fossem tão essencialmente seres sentitivos, de maneira que todas as suas idéias e conceitos a respeito do verdadeiro, do bem, do belo e do divino não fossem senão sensações, ou seja, correspondessem a meras excitações nervosas?” Eu acho que essa pergunta não faz nenhum sentido.
Nas entrelinhas, Turck parece insistir na necessidade de se confrontar essa “cultura excitada”. Eu não entendo bem porque. O cinema contemporâneo (Claire Denis, Pedro Costa, Apichatpong, Abel Ferarra entre outros) que mais gosto, por exemplo, abdica das narrativas totalizantes e aposta no menor. Mas não se trata de fazer oposição a um estado de coisas midiático. O desejo não é pelo contraplano, pelo antagonismo. È um cinema que assumem sua marginalidade, aceita o exílio no interior das práticas cinematográficas majoritárias. Um cinema menor diria Deleuze.
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