sexta-feira, abril 01, 2011

passe livre ***


Eu gostei de “Passe livre”. Há tempos não ria tanto no cinema. O filme segue os passos de “Antes Só do que Mal Casado”, que já apontava uma espécie de retorno, das comédias agridoces mais recentes (como “Amor em jogo”) para uma comédia mais chula e grosseira (porém carinhosa) como a de “Quem Vai Ficar com Mary?”. “Passe livre” é claro, direto e agressivo. É bobo? Claro que é bobo. E qual é o problema? Não entendo as críticas (a do “Globo”, por exemplo) que usam esta “baboseira” como critério de análise. Um filme não pode ser ruim por ser bobo. Esta “baboseira” diz respeito ao que os personagens falam e às situações narradas, e isso é apenas uma informação, um dado, um ponto de partida para alguma coisa, uma análise, uma interpretação, etc. Escrever que um filme é bobo e ridículo não basta, não diz muito. E os Farrelly não filmam com um distanciamento cínico. Se seus personagens são infantis e bobos, para pô-los em movimento na telona, é preciso mergulhar nesse universo da baboseira.

O que eu acho ainda mais estranho são as acusações de moralismo (como faz a crítica da “Folha de São Paulo”). Ricky fica com a esposa por livre, genuína e espontânea vontade (e ainda revela para ela que nunca transou com outra mulher) – fiquei pensado que existe hoje não só uma patrulha do “politicamente correto”, como também uma galera que não consegue aceitar um casamento duradouro e feliz ou a crença inabalável em Deus... Logo depois, Fred revela tudo o que fez enquanto esteve livre para não ter que ir a um show com a esposa. E como se não bastasse, para deixar bem claro que o filme não defende ou ataca a monogamia, não possui mensagem e tampouco uma espécie de aprendizado para a classe masculina, ao ver a felicidade dos casais protagonistas, a esposa do personagem de Stephen Merchan pergunta ao marido se ela deveria dar a ele um passe livre. Ele então se imagina transando com uma mulher oriental. O marido dela chega. Ele mata o marido e a mulher. Mata também o vizinho que o viu enterrando os corpos. A polícia chega. Ele é preso e acaba sendo estuprado na prisão. Stephen Merchan se dá então por si e diz: “Sim. Podemos tentar”. Na mente doentia do personagem, os assassinatos e o estupro na prisão valiam a pena. Ele não aprendeu nada com a história dos amigos. E os Farrelly continuam profundamente conscientes de seus objetivos.

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