quarta-feira, dezembro 21, 2011

...

Ontem fui assistir "Roubo nas alturas", filminho bem mais ou menos de Ben Stiller e Eddie Murphy. E o que me deixou bolado mesmo foram os trailers. Primeiro veio o novo "Missão Impossível", e, em seguida, "Dois coelhos". E aí, meu irmão... Não dá. Não sabia da existência deste "Dois coelhos", de Afonso Poyart. Mas o fato é que, diante do "Missão impossível", diante da pujança hollywoodiana, o brasileiro parece uma coisa meio amadorística. Na comparação, perderemos quase sempre. Não tem muito jeito. Vejam vocês:



domingo, dezembro 18, 2011

garoto da bicicleta ***


Não sei se gosto de “O Garoto de Bicicleta”. Acho que o Francis Vogner dos Reis conseguiu sintetizar a minha sensação com os filmes mais recentes dos Dardenne em sua crítica sobre “O silêncio de Lorna”: o projeto estético-cinematográfico dos belgas anda dando sinais de saturação e não exatamente de esgotamento. É bem por aí mesmo. Ainda é possível maravilhar-se como o garoto (brilhantemente interpretado por Jérémie Renier) nos é revelado enquanto anda em sua bicicleta, como suas vontades e angústias tornam-se em geral evidentes pela maneira como ele pedala. O jogo de gato e rato entre a câmera e o personagem que tanto marca o cinema dos Dardenne também permanece sedutor e energético, assim como a precisão e objetividade narrativa dos irmãos belgas. Agora, contudo, as linhas (e seus pontos de chegada) que conjugam essa negociação entre a câmera e o corpo dos atores e dos espaços e determinadas funções narrativas, me parecem por demais visíveis. É neste sentido que a trilha supostamente bressoneana (como bem disse o Fábio de Andrade lá na Cinética) me incomoda bastante. Ele vem em três momentos do filme, como que a sublinhar viradas e fazer brotar sentimentos por demais esclarecidos, pena, piedade, compaixão. Tudo muito certinho, programático, previsível.

terça-feira, dezembro 13, 2011

ferrara

Ando revendo os filmes de Abel Ferrara - a minha produtora (firula filmes) aprovou uma retrospectiva do homem lá no CCBB. Eu já tinha visto quase tudo (com a exceção dos episódios do “Miami Vice” e dos filmes para a TV), e, agora, revejo os meus favoritos: “Maria” (2005), “New Rose Hotel” (1998), “The blackout” (1997), “Bad Lieutenant” (1992), “MS.45” (1981), “Dangerous game” (1993) ... É um cineasta que parece falar pra mim. Só pra mim. Tudo me chega com uma intensidade... Tudo me parece tão livre... Fico pensando de onde vem esta sensação de algo que transborda, que nos joga pra frente. Ferrara filma como se fosse o primeiro. Seus filmes são diferentes. Diferentes a ponto de serem estranhos. A cada plano, algo potencialmente novo se vislumbra e nos convoca. Tudo é possível em um filme de Ferrara. Talvez venha daí...

Aliás, já troquei alguns emails com o Ferrara. São emails com a cara do cinema de Ferrara: palavras fortes, sem tempo para vírgulas ou pontuações... e, por vezes, de uma curiosa incompreensão. Depois volto a isso.

sexta-feira, dezembro 09, 2011

links

- nova revista no ar, a Interlúdio!

- a nova edição da Filme Cultura.

- Jacques Rancière e Philippe Lafosse em uma conversa sobre os Straubs.

quinta-feira, novembro 24, 2011

cineclube cinética

Hoje tem Cineclube da Cinética lá no IMS. Às 17h passa "Nanook, o Esquimó" (1922), de Robert Flaherty, e, às 18h30, é a vez de "Aquele Querido Mês de Agosto" (2008), de Miguel Gomes. Cliquem nos filmes para ler os textos sobre eles.

sábado, novembro 19, 2011

ray, haneke e von trier

Estão rolando algumas retrospectivas no Rio. Michael Haneke no Caixa Cultural, Lars Von Trier no IMS, e Nicholas Ray, o grande, no CCBB. Para ver a programação basta clicar nos nomes.

terça-feira, outubro 25, 2011

links

- a nova edição da La Furia Umana está no ar.

- algumas homenagens a Raul Ruiz.

- Rafael de Luna acaba de colocar no ar o site Viva Cine – Portal História Viva do Cinema Brasileiro, uma iniciativa da Associação Cidadela e do Tela Brasilis voltada para a reflexão e discussão sobre a história do cinema brasileiro.

sexta-feira, outubro 21, 2011

cineclube cinética

Hoje tem Cineclube Cinética lá no IMS. Serão exibidos, às 17h30, "O Atalante" (1934), de Jean Vigo, e, às 19h45, "Após a Reconciliação" (2000), de Anne-Marie Miéville.

terça-feira, outubro 18, 2011

canções

É um privilégio ver um filme de Eduardo Coutinho. Talvez ele nunca esteve tão feliz fazendo um documentário quanto neste “As canções”. E algo desta felicidade imprimi no filme. Um palco, uma cadeira, uma cortina, e pessoas conversando sobre suas vidas e canções preferidas. Coutinho é de uma simplicidade meio punk. Ao mesmo tempo, o jogo entre fato, lembrança, ficção e relato é de uma sofisticação desconcertante. Nada disso, contudo, parece realmente importante quando “experienciamos” um filme de Coutinho. “Canções” é como um presente. Vê-lo é como ganhar um presente.

domingo, outubro 16, 2011

festival

Este Festival do Rio é uma bagunça. Agora mesmo cancelaram a exibição do filme do Abel Ferrara. Não consegui ver “Drive”, que disseram que não ia mais passar, mas acabou passando. Os longas de Monte Hellman e Chantal Akerman ainda não começaram a vender. E, pelo amor de Deus, quem faz a seleção dos curtas deste festival?

terça-feira, outubro 11, 2011

francesco

Esta cena de Francesco (1950), de Rossellini, é incrível. É um cinema que vislumbra uma espécie de pedagogia. Rossellini acredita na capacidade do cinema de revelar uma verdade (espiritual) a partir da literalidade das coisas e, por conseguinte, tocar as pessoas.

Lembro de “Lettre sur Rossellini”, artigo em que Jacques Rivette compara os filmes do cineasta italiano a ensaios atravessados por parábolas, suaves e precisas, que o crítico associava aos traços de Matisse. "Cada cena, cada episódio voltarão à sua memória, não como uma sucessão de planos e de enquadramentos, uma seqüência mais ou menos brilhante, mas como uma grande frase melódica, um arabesco contínuo, um só traço implacável que conduz seguramente os seres para o que ainda ignoram e encerra na sua trajetória um universo palpitante e definitivo; seja um fragmento de Paisà, um episódio de ‘Francisco, arauto de Deus’, ‘Europa 51’, ou o todo de seus filmes, a sinfonia em três movimentos de ‘Alemanha, ano zero’, a linha ascendente e obstinada de ‘Stromboli’ -, sempre o olhar incansável da câmera representa o papel do lápis, um desenho temporal prossegue sob nossos olhos; seguimos seu progresso até o esvaecimento final, até que ele se perca na duração, tal como surgira da brancura da tela".

domingo, outubro 09, 2011

elvis & madona

“Elvis & Madona” é um filme bem sedutor atraente e ao mesmo muito fácil de se desgostar. Se a temática é ousada, sua condução poderia até ser classificada como conservadora. O amor de Elvis e Madona acaba sendo reconvertido em uma relação heterossexual, e, por vezes, as noções pré-concebidas a respeito destes tipos parecem falar mais alto do que os personagens em cena. Se a montagem é truncada e a encenação um tanto limitada (algumas piadas não têm timing, perde-se o ritmo interno em certas cenas, alguns conflitos são resolvidos com pressa, e alguns atores rendem menos do que os protagonistas), “Elvis & Madona” transpira vez ou outra um amadorismo no bom sentido, um filme que deseja produzir imagens que se imponham.

sexta-feira, outubro 07, 2011

festival do rio

Algumas (poucas) dicas (os dois primeiros estreiam ainda em outubro):

Inquietos, de Gus Van Sant
L'Apollonide, de Bertrand Bonello
Chantrapas, de Otar Iosseliani
Drive, de Nicolas Winding Refn
4:44 Last Day on Earth, de Abel Ferrara
Tabloide, de Errol Morris
Um método perigoso, de David Cronenberg
Take Shelter, de Jeff Nichols
Boys meets girl, de Leo Carax
Loucura de Almayer, de Chantal Akerman
Uma longa viagem, de Monte Hellman
Terraferma, de Emanuele Crialese
Sangue do meu sangue, João Canijo
We Need to Talk About Kevin, de Lynne Ramsay
George Harrison, de Martin Scorsese

Além das retrospectivas de Bela Tárr e Dario Argento

terça-feira, outubro 04, 2011

aula magna com roberto farias

Esta quinta (dia 6) a UFF recebe Roberto Farias no Auditório da Faculdade de Direito para uma Aula Magna, às 10h. Quem quiser, é só chegar.

Endereço: Rua Presidente Pedreira 62, Ingá, Niterói.

segunda-feira, outubro 03, 2011

assombro



Uma performance assombrosa de Klaus Nomi, contra-tenor alemão, que morreu de Aids em 1983, aos 39 anos. Ele canta uma ária do século XVII escrita por Henry parcell, morto em decorrência da tuberculose, aos 36 anos. A ária chama-se "The Cold Song":

What power art thou, who from below
Hast made me rise unwillingly and slow
From beds of everlasting snow
See’st thou not ( how stiff )2) and wondrous old
Far unfit to bear the bitter cold,
I ( can scarcely move or draw my breath )2)
Let me, let me freeze again to death.3)

sábado, outubro 01, 2011

riscado e casa de sandro

- “Riscado” busca uma espécie de simplicidade sofisticada. Várias texturas compõem o longa, do HDV (para a história principal) ao 16 mm (para os momentos íntimos), passando pelo super-16 (quando vemos o filme dentro do filme). A idéia, me parece, era embaralhar estas instâncias, costurar um longa camada por camada, em um movimento circular pra frente. E isto, definitivamente, traz um certo frescor a “Riscado”, um filme entusiasmado com as possibilidades que se lhe apresentam a partir desta estrutura. É também um filme entusiasmaste no que diz respeito à personagem Bianca Ventura, que sobrevive fazendo bicos até que um dia surge o papel de protagonista em um longa.

O final de “Riscado”, no entanto, me incomoda. Bianca (quem não viu o filme deve parar por aqui) é desligada de maneira grosseira do filme que estava fazendo. Por que ela não poderia seguir no filme? Por que “Riscado” termina com uma derrota? Acho que este é um problema meu mesmo. Não desmereço o filme por isto, embora não possa negar que aquele final me desagrada. “Riscado” tinha o poder de dar aquela vitória, talvez a grande primeira vitória de Bianca. Eu gosto de finais felizes. Gosto de filmes felizes. “Riscado” é um filme ensolarado (recheado, é verdade, de muita mesquinharia e pequenezas) que no fim me parece duro demais com Bianca.


- "Casa de Sandro” nos desafia com uma câmera insistentemente fixa, por vezes como uma intrusa à espreita, noutras como uma convidada silenciosa. È curiosa esta dupla função. Pois somos convocados a contemplar um mundo que parece se constituir muitas vezes através desta mesma contemplação. Neste sentido, é mesmo muito legal a primeira cena de “Casa de Sandro”. Fábio Andrade falou dela lá na Cinética. “Casa de Sandro” se afirma como um exercício do olhar. Este exercício, no entanto, é a todo o momento reiterado e valorizado pelo filme. E aos poucos, a relação que o filme estabelece com o que filma esfria-se. A impressão em alguns momentos é a de que o filme já estava pronto antes de ser filmado.

quinta-feira, setembro 29, 2011

links

- Paulo Roberto Elias postou em seu blog um texto muito bacana sobre o IMAX do UCI do Rio.

- Vídeos- entrevista com o crítico e teórico britânico Victor Perkings. Bem legal.

- Um texto de Adrian Martin sobre "A árvore da vida".

- Outro texto bem curioso de um dos roteiristas de "Conan" sobre como é trabalhar em um fracasso hollywoodiano.

terça-feira, setembro 27, 2011

clichês

Algo me incomoda quando um crítico desmerece um filme descrevendo-o como uma sucessão de clichês. Talvez isso fizesse sentido algumas décadas atrás. Hoje, no entanto, parece-me muito mais uma certa preguiça crítica. Afinal, o que não é clichê nesta sociedade em que vivemos, quando não se pode mais pensar a cultura de mídia e a cultura do consumo em separado? E mais: os clichês (imagens que, repetidas diversas e diversas vezes, supostamente, sintetizariam a essência daquilo que representam), refletem o contexto em que foram criados e passaram com o tempo a nos propor uma relação afetiva. Talvez o problema não seja exatamente o clichê, mas o reduzir-se a ele. Parece mero jogo de palavras, mas não é. Pois, se por um lado, um clichê, tal como uma camisa de força, pode reduzir nosso horizonte de possibilidades; por outro, ele pode também funcionar como uma porta de entrada, facilitar a comunicação, demarcar afinidades ou distâncias. Um clichê não é em si falso ou verdadeiro. Esta é uma questão que se resolve no decorrer da sequencia, no dia a dia. Eu lembro de “Eastbound & Down”, a série de Jody Hill e David Gordon Green. Trata-se uma sucessão de clichês. Kenny Powers, o personagem principal, é um clichê ambulante. Mas tudo nele soa tão autêntico.

domingo, setembro 25, 2011

debate

Cezar Migliorin, professor da UFF e colaborador da Cinética, publicou um breve texto em seu blog sobre Minc, jovens e arte. Este texto rendeu um debate bem legal. Cliquem e leiam.

quinta-feira, setembro 22, 2011

decora

Estava vendo outro dia um pedaço do programa “Decora” do GNT. Eu simplesmente odeio este programa. Odeio como os espaços ficam depois que a decoradora os arranja. Eles ficam todos muito parecidos, bizarramente impessoais, com um jeitão enorme de mostruário. São espaços que não parecem muito abertos ao humano, entendem? Se você tirar algo do lugar, se alguma coisa quebrar, toda aquela harmonia fabricada vai para o quinto dos infernos. E o que mais me espanta é o fato destes espaços alterados serem sempre tão imensamente sedutores. É difícil não gostar da coisa logo de cara. É uma coisa meio agressiva neste sentido. Daí talvez venha este ódio todo. Eu me pego tendo que lutar contra esta sedução inicial...

terça-feira, setembro 20, 2011

lonely island 2



Eu andei revendo alguns clipes do Lonely Island. São mesmo incríveis. Eu me sinto como um contrabandista. Este é o convite do trio: contrabandear mal gosto para dentro do “sistema”. Eles pegam uma piada ruim e a enchem de perfumes, efeitos, câmeras lentas, gente famosa, enfim, de “bom gosto”. Essa adesão aos perfumes, aos efeitos, às câmeras lentas, à gente famosa, ao “bom gosto”, ao, por que não, clichê, é tão radical que acaba revelando o vazio destes termos e procedimentos. Qualquer coisa cabe ali. Até mesmo uma piada infame.

domingo, setembro 18, 2011

cinemaison

Esta segunda o Cinemaison exibe "La Danse", mais um grande filme de Frederick Wiseman, em que o mestre do cinema direto americano acompanha o balé da ópera de Paris. Começa às 19h.

quarta-feira, setembro 14, 2011

edward yang e vicente minnelli

- Amanhã, o Cineclube da Cinética exibe às 17h "As coisas simples da vida", obra prima do taiwanês Edward Yang. Para ler o texto sobre o filme clique aqui.

- Começa hoje no CCBB uma mostra com filmes do grande Vicente Minnelli. Vejam a programação neste link.

domingo, setembro 11, 2011

The Creep (feat. Nicki Minaj & John Waters)

Este pessoal do Lonely Island está fazendo algo bem radical. É uma comédia radical, desorganizando os códigos cômicos por dentro. Os caras levam uma piada ruim às últimas consequências. E é deste gesto que vem a graça. Vejam o vídeo abaixo:

sexta-feira, setembro 09, 2011

festival do rio

O festival do Rio acaba de divulgar os longas brasileiros que serão exibidos este ano. Vejam abaixo:

COMPETIÇÃO LONGAS DE FICÇÃO

1. A NOVELA DAS OITO de Odilon Rocha

2. AMANHÃ NUNCA MAIS de Tadeu Jungle

3. EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DE SEUS LINDOS LÁBIOS de Beto Brant e Renato Ciasca

4. GIRIMUNHO de Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina

5. HISTÓRIAS QUE SÓ EXISTEM QUANDO LEMBRADAS de Julia Murat

6. MÃE E FILHA de Petrus Cariry

7. A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA de Vinícius Coimbra

8. O ABISMO PRATEADO de Karim Aïnouz

9. SUDOESTE de Eduardo Nunes


HORS CONCOURS FICÇÃO

1. CAPITÃES DE AREIA de Cecília Amado

2. CORAÇÕES SUJOS de Vicente Amorim

3. O PALHAÇO de Selton Mello

4. OS 3 de Nando Olival

5. REIS E RATOS de Mauro Lima

NOVOS RUMOS

1. PARAÍSO, AQUI VOU EU de Walter Daguerre e Cavi Borges

2. CRU de Jimi Figueiredo

3. DIA DE PRETO de Marcos Felipe, Daniel Mattos e Marcial Renato

4. RÂNIA de Roberta Marques

5. TEUS OLHOS MEUS de Caio Sóh

6. VAMOS FAZER UM BRINDE de Cavi Borges e Sabrina Rosa

7. CIRCULAR de Adriano Esturilho, Aly Muritiba, Bruno de Oliveira, Diego Florentino e Fábio Allon

8. ESPIRAL de Paulo Pons

COMPETIÇÃO LONGAS DOCUMENTÁRIOS

1 . A ERA DOS CAMPEÕES - de Cesario de Mello Franco e Marcos Bernestein -

2. CANÇÕES de Eduardo Coutinho

3. LAIÁ, LAIÁ de Alexandre Iglesias

4. LUZ, CÂMERA, PICHAÇÃO de Marcelo Guerra, Gustavo Coelho e Bruno Caetano

5. MARIGHELLA de Isa Grinspum Ferraz

6. MENTIRAS SINCERAS de Pedro Asbeg

7. OLHE PRA MIM DE NOVO de Kiko Goifman e Claudia Priscilla

8. OS ÚLTIMOS CANGACEIROS de Wolney Oliveira

HORS CONCOURS DOCS

1. CASA 9 de Luiz Carlos Lacerda

2. UMA LONGA VIAGEM de Lúcia Murat

3. VIDA DE ARTISTA de José Joffily

RETRATOS

1. Abdias Nascimento, Um Brasileiro do Mundo de Aída Marques

2. Augusto Boal e o Teatro do Oprimido de Zelito Viana

3. Bruta Aventura em Versos de Letícia Simões

4. Cena Nua de Belisário Franca

5. MARCELO YUKA NO CAMINHO DAS SETAS de Daniela Broitman

6. Salgado Filho - O Herói Esquecido de Ricky Ferreira

PREMIERE LATINA

1 CARTA PARA O FUTURO de Renato Martins

2 CUBA LIBRE de Evaldo Mocarzel

MOSTRA EXPECTATIVA

1.TAMBORES de Sérgio Raposo

2. VALE DOS ESQUECIDOS de Maria Carvalho Raduan

PANORAMA DO CINEMA MUNDIAL

1.Rock Brasília, Era de Ouro de Wladimir Carvalho

MOSTRA ITINERÁRIOS ÚNICOS

1. Um dia com Frederico Morais de Guilherme Coelho

2. Meia hora com Darcy de Roberto Berliner

quarta-feira, setembro 07, 2011

wim wenders

A Caixa Cultural recebe uma retrospectiva de Wim Wenders. Vejam a programação:

Quarta, 7/09
14h30 – O Céu de Lisboa (Alemanha/Portugal, 1994. Livre)
16h30 – Asas do Desejo (Alemanha, 1987. Livre)
19h- Paris, Texas (França/Alemanha, 1984. 14 anos)

Quinta, 8/09
14h30 – No Decurso do Tempo (Alemanha, 1976. 14 anos)
18h – Movimento em Falso (Alemanha, 1975. 12 anos)
20h – debate "As imagens de Wim Wenders"

Sexta, 9/09
14h30 – O Estado das Coisas (Alemanha/EUA/Portugal, 1982. 14 anos)
17h – Tão Longe, Tão Perto (Alemanha, 1993. 14 anos)
19h30 – O Amigo Americano (França/Alemanha, 1977. 14 anos)

Sábado, 10/09
14h – Medo e Obsessão (Alemanha/EUA, 2004. 12 anos)
16h30 – Palermo Shooting (Alemanha, 2008. 18 anos)
18h30 – Até o Fim do Mundo (Alemanha/Austrália/França, 1991. 14 anos)

Domingo, 11/09
14h – A Alma de um Homem (EUA, 2003. Livre)
16h – Alice nas Cidades (Alemanha, 1973. 14 anos)
18h30 – O Fim da Violência (Alemanha/França/EUA, 1997. 18 anos)

Terça, 13/09
15h - Medo e Obsessão (Alemanha/EUA, 2004. 12 anos)
17h30 – O Céu de Lisboa (Alemanha/Portugal, 1994. Livre)
19h30 – Além das Nuvens (Alemanha/França/Itália, 1995. 18 anos)

Quarta, 14/09
15h30 - Até o Fim do Mundo (Alemanha/Austrália/França, 1991. 14 anos)
19h - Asas do Desejo (Alemanha, 1987. Livre)

Quinta, 15/09
15h - O Fim da Violência (Alemanha/França/EUA, 1997. 18 anos)
18h - Além das Nuvens (Alemanha/França/Itália, 1995. 18 anos)
20h - Alice nas Cidades (Alemanha, 1973. 14 anos)
Sexta, 16/09
15h30 - No Decurso do Tempo (Alemanha, 1976. 14 anos)
19h - Tão Longe, Tão Perto (Alemanha, 1993. 14 anos)
Sábado, 17/09
14h - Paris, Texas (França/Alemanha, 1984. 14 anos)
17h - Movimento em Falso (Alemanha, 1975. 12 anos)
19h - O Estado das Coisas (Alemanha/EUA/Portugal, 1982. 14 anos)
Domingo, 18/09
14h30 - O Amigo Americano (França/Alemanha, 1977. 14 anos)
17h - A Alma de um Homem (EUA, 2003. Livre)
19h - Palermo Shooting (Alemanha, 2008. 18 anos)

terça-feira, setembro 06, 2011

alguns brasileiros

- Não gostei do novo filme de Eryk Rocha. A mise en scène sempre foi protagonista de seu cinema. Há em seus filmes um formalismo do plano, um certo maneirismo de se conseguir um efeito plástico. “Transeunte” não é diferente. Organiza-se uma sucessão de sequencias singulares, com imagens empenhadas em criar estranhamento e adquirir estatuto de autonomia em relação à narrativa, sempre com angulações inusitadas, muitos grãos e o corpo do protagonista em primeiro plano. O efeito plástico é como um fim que justifica os meios. “Transeunte” é um filme de coragem – disposto a construir um olhar atento aos pormenores de um personagem anônimo sem particularidades. Neste processo, no entanto, Rocha deixou a receita à vista. “Transeunte” faz força demais, repetidamente, para “significar”. É um filme de macetes significantes. E sua busca de um não sentido por vezes parece escorregar na busca de um sentido único.

- Hugo Carvana é um cineasta com um universo facilmente reconhecível. E muito me agrada o seu espírito descompromissado. "Não se Preocupe, Nada Vai Dar Certo", como os últimos longas de Carvana, é um filme apaixonado. É claro: Carvana tem suas limitações como cineasta, todas elas muito evidentes. Mas ele não as disfarça. Muito pelo contrário. É como se por vezes suas imperfeições tão particulares funcionassem como assinaturas. Devo dizer, no entanto, que um furo na narrativa de “Não se preocupe” me jogou para longe do filme e eu não consegui mais voltar. O guru indiano havia sido preso em Miami por uma acusação de pedofilia. Uma empresária brasileira que havia contratado o guru para palestras no Rio de Janeiro resolve procurar um ator desconhecido que possa se passar pelo indiano. Lalau (Gregório Duvivier) aceita o trabalho, sobrevive aos jornalistas e às primeiras palestras. Eu me senti agredido por isto. Em tempos de Internet, se um famoso guru indiano for preso em Miami por pedofilia antes de vir ao Brasil, todo mundo vai saber. A trama talvez funcionasse alguns anos atrás. Hoje, no entanto, é como se ela estivesse subestimando a minha inteligência. Pelo menos foi como me senti. E por mais que eu quisesse, não consegui mais entrar no filme.

- O que é o final de “O Homem do futuro”!? O filme seguia aos trancos até o fim, é verdade, até mesmo Wagner Moura me parecia ruim, mas Cláudio Torres tem de fato algum talento se o compararmos a outros cineastas brasileiros. Mas este final é algo tão cínico e amoral... Um filme morre pra mim num momento como este. Fiquei lembrando de Jacques Rivette e seu texto paradigmático sobre “Kapo” (1959), em que ele condenava um movimento de câmera de Gillo Pontecorvo ao “mais profundo desprezo”. Faço o mesmo com “O homem do futuro”.

- Sobre “A alegria”, leiam esta crítica de Inácio Araújo:

"A Alegria" é, até certo ponto, o filme da geração do "fim da história", do sentimento de nada a fazer, nada por que combater, nada a obter. Representada por quatro amigos, a geração opõe-se ao nada que lhe é oferecido e dispõe-se a lutar contra.

É, também, o filme de uma cidade que experimenta o fantasma do próprio extermínio, da submersão, do fim sob uma onda de violência, a saber, o Rio de Janeiro.

Unir os dois temas não é simples. O primeiro envolve uma atitude existencial, uma disposição diante de como o mundo se apresenta a jovens de determinado momento. O segundo diz respeito a uma experiência urbana.

O produto de ambos talvez seja esse grupo de adolescentes em busca de si mesmos diante de uma realidade que se apresenta bastante hostil.

Diante dela, o grupo de amigos estará com Luiza, sua aparente líder, que menciona uma "política da alegria", talvez a única viável ao grupo (e à geração).

Essas questões já se encontravam no filme anterior da dupla Felipe Bragança e Marina Meliande, "A Fuga da Mulher Gorila". Talvez não seja inexato dizer que estavam colocados de maneira mais eficaz lá, na trajetória da garota que se transformava numa assustadora gorila.

Aqui certos elementos retornam: as máscaras, a menção ao fantástico (um tanto incompreensível) ao final, compondo a estranha e fascinante colagem de imagens ora coloquiais, ora poéticas, ora realistas, ora alegóricas.

A aproximação entre esses registros gera uma incômoda sensação de obscuridade (para a qual colaboram decisivamente as deficiências do som e da direção de atores).

Sem paternalismo, os tropeços podem ser vistos como parte do percurso muito interessante escolhido pelos realizadores, de um grupo que se opõe ao comercialismo (o sucesso de bilheteria como fim) do cinema brasileiro.

Talvez essa trajetória se torne mais clara quando observarem que a limpidez de algumas de suas imagens é mais significativa do que os momentos em que a necessidade de buscar a originalidade parece se interpor entre os autores do filme e seu objeto.

quinta-feira, setembro 01, 2011

colóquio

Começa hoje o colóquio “Itinerários da Comunidade”, no auditório G-1 da Faculdade de Letras da UFRJ. Vejam as mesas:

Dia 1º de setembro:

10:00 h - Márcio Seligmann-Silva (UNICAMP) - “Toda comunidade é fascista. Um elogio do nomadismo”.

10:30 h - Karl Erik Schollhammer (PUC/RJ) – “Pode a literatura formar uma comunidade estética?”

Mediação: João Camillo Penna (UFRJ).

11:30 h - Eduardo Sterzi (UNICAMP) - "A comunidade antropófaga".

12:00 h - Denilson Lopes (UFRJ) – “Encenações Minimalistas e Pós-Dramáticas do Comum”.

Mediação: Ângela Maria Dias (UFF).

15:00 h - Ângela Dias (UFF) – “Nostalgia da presença e comunidades infundadas”.

15:30 h - Paula Glenadel (UFF) – “Comunidades poéticas”.

Mediação: Ana Alencar (UFRJ).

16:30 h - Eliane Robert Moraes (USP) - "Sobreviver junto".

17:00 h - Susana Scramim (UFSC)- “Agamben, a poesia e a comunidade que vem”.

Mediação: Alberto Pucheu (UFRJ).

18:00 h - Edson Rosa (UFRJ) – “A obra de arte: resistência e insubmissão".

18:30 h - Rosana Kohl Bines (PUC-RJ) - “"Formas de partilha estética”.

Mediação: Marcelo Diniz (UFRJ).

Dia 2 de setembro

9:30 h - Francisco Foot-Hardman (UNICAMP) - “Contra Estado, Contra Sociedade: a comunidade dos sem-pátria e os dilemas do novo anarquismo global”.

10:00 h - Roberto Vecchi (Universita degli Studi de Bologna) - "Imperfeições, vácuos e potências do ser-em-comum: as incompletudes da comunidade e a força literária".

Mediação: Danielle Corpas (UFRJ).

11:00 h - Raul Antelo (UFSC)– «Comunidade acéfala ».

11:30 h - Ettore Finazzi Agrò (UNIROMA)- “Munus e communitas: a identidade negociada e a comunidade ausente na Modernidade brasileira”.

Mediação: Ricardo Pinto (UFRJ).

14:30 h - Julio Ramos (UC Berkeley) - "Arte, trabajo y comunidad en los murales fordistas de Diego Rivera en Detroit".

15:00 h - Cláudio Oliveira (UFF) – “Comunidade que vem e política não estatal em Giorgio Agamben”.

Mediação: Francisco Foot-Hardman (UNICAMP).

16:00 h - Roberto Zular (USP) – "Comunhão de bocas vazias ou a poesia como potência de enunciação".

16:30 h - João Camillo Penna (UFRJ) – “Comunidade autoimune”.

Mediação: Flávia Trocoli (UFRJ).

17:30 h - Ana Kiffer (PUC-RJ) – “Da comunidade, entre o intruso e o corpo”;

18:00 h - Marcelo Jacques de Moraes (UFRJ) - "A poesia: lugar comum, lugar sem fim".

Mediação: Ângela Maria Dias (UFF).

quarta-feira, agosto 31, 2011

melancolia ***

Não parece mais haver no cinema de Lars Von Trier um “apetite pelo real”. Ele não trabalha mais com imagens do mundo, com um material real sobre a realidade. Von Trier inscreve-se cada vez mais numa certa tendência de um cinema agressivo e manipulador do mal-estar do espectador. Em seus filmes, o cineasta exibe e põe em crise a essência da manipulação cinematográfica, sendo, ao mesmo tempo, manipulador e delator da sua própria manipulação – algo que o diferencia, pra mim, de um realizador como Michael Hanake. Em geral, pelo menos até “Anticristo” (2010), seu último filme, o cinema de Von Trier vinha sendo associado ao termo niilismo. No entanto, Melancolia, no sentido que este seu mais novo longa imprimi a palavra (algo que remonta, como bem delimitou Luiz Felipe Pondé na "Folha", a Sade), parece mesmo uma expressão mais certeira.

Algo estranho se passa com Justine. Em plena festa de casamento ela parece distante. Lars Von Trier alterna cenas da festa (um verdadeiro ritual de gestos e ações protocolares) e sequencias de Justine sozinha, seja em espaços fechados (como quartos ou banheiro), seja do lado de fora da mansão. Justine parece ter flertado com o caos, contemplado o vazio. E a partir daí, como ela mesma diz, será preciso lutar consigo própria para conseguir caminhar e respirar. Não é mais possível voltar atrás, casar ou trabalhar como publicitária. Nem mesmo seu prato preferido pode ser, como antes, saboreado. "A vida na Terra é má", diz ela. "Estamos sós", continua. Para Justine, a questão não é a apenas a sociedade contemporânea ou nem mesmo a raça humana. É a própria vida que é torta, errada, perversa. Melancolia, para Lar Von Trier, nasce desta consciência de que a natureza em si má. E o filme narra a tomada de consciência de Justine. Melancolia é também o nome de um planeta que se chocará com a Terra. Para Justine, é como se o universo dissesse a verdade pela primeira vez. E em uma estranha, porém bela cena narrada pelo ponto de vista de sua irmã, vemos Justine oferecendo seu corpo nu para Melancolia.

segunda-feira, agosto 29, 2011

miike e conferência no mac

- Começa amanhã no CCBB uma mostra com filmes do japonês Takashi Miike. Vejam a programação aqui.

- E, também amanhã, a pós da UFF inaugura o segundo semestre com uma palestra de Richard Peña, professor de Estudos Cinematográficos da Columbia University e chefe do setor de programação da Film Society of Lincoln Center, em Nova York. Ele falará sobre o cinema independente negro norte-americano no período da segregação. E a palestra será no MAC de Niterói, de 10h30 a 12h30.

sexta-feira, agosto 26, 2011

mam

O MAM do Rio vem exibindo uma pequena mostra chamada "Deleuze/Guattari". A curadoria é de Ruy Gardnier. Vejam só os filmes que serão exibidos neste fim de semana:

sex 26

18h30 – "Ouro e maldição" (1924) de Erich von Stroheim

sab 27

16h – "O demônio das onze horas" (1965) de Jean-Luc Godard

18h – "Deus e o diabo na terra do sol" (1964) de Glauber Rocha

dom 28

16h – O ano passado em Marienbad (1961) de Alain Resnais
18h – "A rotina tem seu encanto" (1962) de Yasujiro Ozu

quarta-feira, agosto 24, 2011

cineclube cinética

Amanhã tem Cineclube Cinética lá no IMS. Às 17h será exibido "Aprile" (1998), de Nanni Moretti. Às 19h é a vez de "Capitão Achab" (2007), de Philippe Ramos. Para ler textos sobre os filmes, basta clicar nos títulos.

terça-feira, agosto 23, 2011

revista e seminário

Estréia de uma nova revista online sobre cinema: LOLA, editada por Adrian Martin e Grish Shambu.

E começa dia 25 um seminário bem bacana na UFF: "As redes e a rua: Comunicação e democracia". Vejam a programação:

25 de Agosto | Quinta-feira

Mesa 1 | 9:30 – 12:30
Ivana Bentes | UFRJ
Daniel Aarão Reis | UFF
Renato Lessa | UFF
Coordenação: Isaac Pipano | UFF

Mesa 2 | 14:30 – 17:30
Marcus Faustini | Escritor e gestor público
Pablo Capilé | Fora do Eixo
Renato Roseno | PSOL/Ceará
Coordenação: Rodrigo Capistrano | UFF


26 de Agosto | Sexta-feira

Mesa 3 | 9:30 – 12:30
Fernando Resende | UFF
Fernanda Bruno | UFRJ
Cezar Migliorin | UFF
Coordenação: Edinei Genaro | UFF

Plenária | 14:30 – 17:30
Sistematização dos Debates
Local: Rua Tiradentes, 148, Ingá - Niterói.
redeserua.blogspot.com

domingo, agosto 21, 2011

super 8 ***

Como pode um filme basear-se na evocação de um determinado cinema e ao mesmo tempo afirmar-se como uma aventura cinematográfica singular? Como pode um filme valer de uma só vez por seu potencial abstrato e pelas ações concretas narradas? Pois o que está em jogo em “Super 8” não é somente aquilo que vemos nas imagens, sua configuração dramática e narrativa, mas também aquilo que elas são capazes de evocar. Isto, na verdade, está dado já no título. Afinal, o formato super 8 comporta neste filme duas simbologias diferentes: ele é caseiro, intimista, afetivo, documenta momentos banais vividos entre amigos e familiares; ele é também o formato através do qual toda uma geração de artesãos-cineastas começou a dominar o fazer cinema (além do próprio Abrams, conta-se ainda gente como Spielberg e M. Night Shyamalan).

Gostei bastante de “Super 8". É um filme maravilhoso, nostálgico não exatamente por um tempo, por uma juventude que se foi, mas por um certo estilo de filmagem. O filme começa e vemos um céu estrelado, a noite e seus segredos, crianças correndo por uma pequena cidade em bicicletas... “Super 8” lembra logo de cara os filmes (produzidos ou dirigidos) de Steven Spielberg do início dos anos 80. Seus personagens se deparam com um fascinante mistério e tentam investigar por si próprios, em uma aventura entre “E.T.” (1982), “Os Goonies” (1985) e filmes antigos de ficção científica. O que J.J. Abrams deseja é evocar a inocência deste cinema enquanto introduz um nível mais avançado nos efeitos especiais.

Estes, é claro, jamais estão no primeiro plano. Esta talvez seja a grande lição de Spielberg. O filme deve fazer acumular uma certa empatia emocional. E os efeitos funcionam como catalisadores. Este é o papel do aliens de “Super 8”. Ele funciona como um catalisador que impulsiona Joe para frente. Ele estará para sempre no segundo, no fundo. Pois o que importa, em primeira instância, é a história sentimental, os personagens e as situações nas quais eles estão inseridos. É incrível, por exemplo, a associação que o filme nos sugere entre os olhares da mãe de Joe (no filmete caseiro que ele assiste com a menina) e do alien (já no final do longa). Há uma complexa rede simbólica em jogo em torno destes olhares. O olhar da mãe para Joe se equivale ao olhar do monstro para Joe.

sexta-feira, agosto 19, 2011

george méliès

Está rolando na Caixa Cultural uma mostra com os filmetes de George Méliès. Em sua maioria, os filmes são projetados, infelizmente, em vídeo. A descrição dos filmes você encontra aqui. Vejam a programação:

Dia 19 de agosto, sexta-feira

Cinema 1 17h
Sessão 9 – Filmes de 1907 e 1908
56 min. Classificação livre

Cinema 2 18h
Sessão 10 – Filmes de 1908 parte I
55 min. Classificação livre

Cinema 1 19h
Sessão 16mm (filmes em película 16mm, com acompanhamento de música ao vivo
30 min. Classificação livre

Dia 20 de agosto, sábado

Cinema 1 17h
Sessão 11 – Filmes de 1908 parte II
53 min. Classificação livre

Cinema 2 18h
Sessão 12 – Filmes de 1908 a 1909
40 min. Classificação livre

Cinema 1 19h
Sessão novas descobertas II (1907 a 1911)
58 min. Classificação 12 anos

Dia 21 de agosto, domingo

Cinema 1 17h
Sessão 13 – Filmes de 1911 e 1912
40 min. Classificação livre

Cinema 2 18h
Sessão 14 – Os últimos filmes (1912 e 1913)
56 min. Classificação livre

Cinema 1 19h
Sessão Panorama
103 min. Classificação 12 anos

domingo, agosto 14, 2011

s’en fou La mort ***

“S’en fou La mort” (1990) é o terceiro filme de Claire Denis. Nele, um longa mais bruto do que “Chocolat” (1988), já é possível identificar a cineasta de “Bom trabalho” (1998), “Desejo e obsessão” (2001), “O intruso” (2004), entre outras grandes obras. Denis deixa-se experimentar a possibilidade de rodar um filme feito de olhares, rostos e corpos. A câmera de Agnes Godard se cola nos personagens e uma profusão sensorial nos impede de concatenar os fatos. A narrativa é passagem, variações sutis de um estado instaurado desde o início do filme. "Todo homem, independente de raça, cor, ou origem, é capaz de tudo e qualquer coisa”, diz Dah (Isaach De Bankolé), citando Chester Himes, logo no início do filme. A violência está sempre na espreita por uma forma que lhe dê vida. “S’em fou La mort” é esta forma. Não há como não pensar em “Galo de briga”, um filme-corpo-estranho de Monte Hellman. Pois mais do que as semelhanças da trama, Denis imprime em seu filme uma sensação muito cara ao cineasta americano: um cinema assombrado pela morte em que se experimenta uma forte sensação de que estamos observando personagens que nunca poderemos realmente entender. Alteridade absoluta.

quinta-feira, agosto 11, 2011

links

Alguns links:

Um mesa redonda intitulada "Obscure Objects of Desire: A Jam Session on Non-Narrative", com Raymond Durgnat, David Ehrenstein e Jonathan Rosenbaum.

E, sobre "A árvore da vida", de Terence Malick, que estréia amanhã, uma mesa redonda na CinemaScope, e uma série de textos na Reverse Shot.




terça-feira, agosto 09, 2011

desejo e obsessão *****

"Desejo e obsessão" é sensacional. É um filme que apela discretamente para as convenções do cinema de gênero, mas sem nunca se permitir ser reivindicado por ele. "Desejo e obsessão" poderia ser descrito como um filme de terror ou como uma ficção científica que não age como tal ou jamais sai do armário. O cinema de gênero é como que contrabandeado, infiltra-se na história como uma doença ao mesmo tempo familiar e estranha. Denis demonstra uma capacidade incrível de revisitar narrativas aparentemente esgotadas para reinvesti-las em toda a sua estranheza. A narrativa (ou melhor, os códigos e signos associados a determinados gêneros cinematográficos) funciona como uma forma de negociar a entrada do espectador no filme, é uma espécie de terreno comum (compartilhado pelo filme e pelos espectadores) e que facilita o diálogo.

Denis desfila mais uma vez suas fixações pelo corpo masculino, pelo sêmen, pela pele, pela doença... É um cinema sobre os corpos, seus limites e desejos, sempre em um equilíbrio incrível entre a sua materialidade, sua espessura impenetrável, e o seu sentido ou significado. O que existe são sensações e a consciência destas sensações. Denis faz da sensação a condição de força primordial da realidade. Isso sem falar em momentos de plasticidade incrível. Agnes Godard, a fotógrafa, faz do corpo uma paisagem inexplorada. E a câmera parece filmar pelo toque.

"Desejo e obsessão" é um filme sobre a carne. A "carne" tal como Merleau-Ponty a definia: um conceito (de caráter propriamente ontológico) que expressa a unidade primordial entre corpo e mundo. A carne é "a indivisão entre este ser sensível que eu sou e todo o resto que é sentido em mim". A carne é a espessura entre o que é visto e quem vê. Essa é a substância do cinema de Denis.

sábado, agosto 06, 2011

kubrick e maristela

O Cine Jóia exibe hoje em seu cineclube, às 21h30, "Laranja mecânica" (1971), de Stanley Kubrick. A entrada é franca. Senhas serão distribuídas a partir das 20h30.

E no CCBB, com a curadoria de Eduardo Ades e Rafael de Luna, está rolando uma mostra muito legal com os filmes do estúdio paulista Maristela. Vejam a programação:

Sábado (06/08):

- 15h, “Meu destino é pecar”, de Manuel Peluffo (Brasil, 1952). 35mm, 72min, P&B. Não recomendado para menores de 14 anos.
- 17h, “Presença de Anita”, de Ruggero Jacobbi (Brasil, 1951). Não recomendado para menores de 14 anos.
- 19h, “Ana”, de Alex Viany (Brasil, 1955). 25min (curta-metragem), P&B. Não recomendado para menores de 14 anos.
Debate: “Os gêneros no cinema brasileiro: melodramas e aventuras”, com: Rarafel de Luna Freire (curador da mostra) e Mariana Baltar (UFF).
Mediação: João Luiz Vieira (UFF).

Domingo (07/08):

- 15h, “Arara vermelha”, de Tom Payne (Brasil, 1957). 35mm (cópia nova), 97min, P&B. Não recomendado para menores de 14 anos.
- 17h, “O comprador de fazendas”, de Alberto Pieralisi (Brasil, 1951). 35mm, 90min, P&B. Livre.
- 19h, “Mãos sangrentas”, de Carlos Hugo Christensen (Brasil, 1954). Beta, 90min, P&B. Não recomendado para menores de 18 anos.

Terça (09/08):

- 17h, “Susana e o presidente”, de Ruggero Jacobbi (Brasil, 1951). 35mm (cópia nova), P&B, 79min Livre.
- 19h, “Getúlio, glória e drama de um povo”, de Alfredo Palácios (Brasil, 1956). 35mm, 85min, P&B. Livre.

Quarta (10/08):

- 17h, ”Vou te contá…”, de Alfredo Palácios (Brasil, 1958). 35mm (cópia nova), 90min. P&B. Livre.
- 19h, “O cinema nacional em marcha…”, de Jacques Deheinzelin (Brasil, 1951). 35mm (cópia nova), 10min, P&B. Livre
Debate: ”O cinema brasileiro industrial e independente”, com Afrânio Mendes Catani (USP) e Luís Alberto Rocha Melo (UFJF).
Mediação: Rafael de Luna Freire.
Quinta (11/08):
- 17h, “Simão, o caolho”, de Alberto Cavalcanti (Brasil, 1952). 35mm, 95min, P&B. Livre.
- 19h, “Quem matou Anabela?”, de D. A. Hamza (Brasil, 1956). 16mm, 93min, P&B. Não recomendado para menores de 14 anos.

Sexta (12/08):

- 15h, “A pensão de D. Estela”, de Alfredo Palácios e Frenc Frekete (Brasil, 1956). 16mm, 95min, P&B. Livre.
- 17h, “Mulher de verdade”, de Alberto Cavalcanti (Brasil, 1954). 35mm (cópia nova), 107min, P&B. Não recomendado para menores de 14 anos.
- 19h, “Susana e o presidente”, de Ruggero Jacobbi (Brasil, 1951). 35mm (cópia nova), P&B, 79min Livre.

Sábado (13/08):

- 15h, “Getúlio, glória e drama de um povo”, de Alfredo Palácios (Brasil, 1956). 35mm, 85min, P&B. Livre.
- 17h, “A pensão de D. Estela”, de Alfredo Palácios e Frenc Frekete (Brasil, 1956). 16mm, 95min, P&B. Livre.
- 19h, ”Vou te contá…”, de Alfredo Palácios (Brasil, 1958). 35mm (cópia nova), 90min. P&B. Livre.

Domingo (14/08):

- 15h, ”Mulher de verdade”, de Alberto Cavalcanti (Brasil, 1954). 35mm (cópia nova), 107min, P&B. Não recomendado para menores de 14 anos.
- 17h, “Quem matou Anabela?”, de D. A. Hamza (Brasil, 1956). 16mm, 93min, P&B. Não recomendado para menores de 14 anos.
- 19h, “Simão, o caolho”, de Alberto Cavalcanti (Brasil, 1952). 35mm, 95min, P&B. Livre.

terça-feira, agosto 02, 2011

serbian film 2

Hoje cineastas vão se encontrar na Fundição Progresso às 19h30m numa reunião aberta para debater as medidas que podem ser tomadas a fim de derrubar a censura ao "Serbian Film". Além disso, a Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM) programou exibições de filmes censurados no passado, seguidas de debates.

Domingo, saiu no “Globo” este texto abaixo assinado pelo Marcelo Janot sobre o censurado “Serbian Film”. Não se trata de uma matéria jornalística. Tampouco exatamente de uma crítica. É algo no meio do caminho. Parece-me até certo ponto um retrocesso em relação ao texto do Cezar Migliorin (veja no post abaixo). Janot ficou em cima do muro. Ele não condena de maneira mais incisiva a censura. É entranho como ela é criticada apenas pelo fato de ter dado sobrevida a um filme (segundo ele) ruim “através da pirataria, despertando o interesse de um público infinitamente superior ao que assistiria ao filme pelas vias legais”. Janot tem razão. Mas este não é definitivamente o x da questão. Estamos falando de liberdade de expressão e artística. Estamos falando de censura a um filme que ninguém viu. E o que mais me incomodou mesmo foi está penúltima e incompreensível frase: “E pior: fizeram com que um grupo de abnegados que se mobilizou contra a censura deixasse em muitos a impressão equivocada de estar defendendo um filme que, com ou sem cortes, merecia nada mais do que o completo anonimato”. Como assim?

Leiam o texto:

RIO – Milos é um ex-astro do cinema pornô sérvio. Passando por dificuldades para sustentar a mulher e o filho, ele aceita uma proposta milionária para voltar a atuar em um filme de um misterioso produtor. Desde o momento em que chega ao local das gravações, todos os seus passos são filmados. Ele é forçado a espancar uma mulher que lhe fornece sexo oral ao mesmo tempo em que observa uma adolescente chupando pirulito e se maquiando. Quando o produtor lhe mostra um vídeo em que um homem estupra um recém-nascido logo após o parto, aquilo é a gota d’água para Milos. Mas arrumam um jeito de drogá-lo para que ele volte a filmar e cometa barbaridades ainda piores.

Esta é a sinopse de “A Serbian film – Terror sem limites” (“Srpski film”). A simples leitura do parágrafo acima já insinua algo que se confirma nos primeiros minutos da projeção: o diretor estreante Srjdan Spasojevic fez um filme para chocar, abordando sem sutileza os mais variados tipos de tabus sexuais. Ao oferecê-los sem a menor preocupação de poupar o espectador (com exceção da cena com o recém-nascido, vista de longe e onde percebe-se que se trata de um boneco), e sem contextualizar as violações (que incluem sexo com cadáver e um estupro do filho de 5 anos) dentro do fiapo de roteiro, o diretor deu um tiro $próprio pé. Apesar de justificáveis apenas sob a ótica doentia do personagem do produtor, as cenas são tão gratuitas, grotescas e exageradas que perdem o impacto pretendido.

Nem a presença do bom ator Srdjan Todorovic, conhecido por filmes do diretor bósnio Emir Kusturica, empresta qualidade a essa produção de proposta realista. O que confere ao filme um caráter trash e alguma semelhança com os gore movies, mesmo sem o humor que caracteriza essas produções, é o excesso de tripas e sangue e a ausência de um roteiro consistente. Risíveis são as declarações dadas pelo diretor de que o filme seria uma espécie de metáfora do que passou o povo sérvio nos últimos anos.

Segundo o site IMDB, na Sérvia o filme arrecadou menos de 7 mil. E, por mais que gerasse algum burburinho em exibições esporádicas em festivais, por sua má qualidade artística passaria quase despercebido pelos cinemas onde fosse lançado. E aí quem resolveu dar um tiro no próprio pé foram as autoridades brasileiras. Ao proibirem a exibição do filme, garantiram a ele uma sobrevida com a circulação através da pirataria, despertando o interesse de um público infinitamente superior ao que assistiria ao filme pelas vias legais. E pior: fizeram com que um grupo de abnegados que se mobilizou contra a censura deixasse em muitos a impressão equivocada de estar defendendo um filme que, com ou sem cortes, merecia nada mais do que o completo anonimato. Não se espantem se em breve surgir uma onda de obras à altura da mediocridade de “Um filme sérvio”, já que a publicidade gratuita estará garantida.

sábado, julho 30, 2011

serbian film

Leiam o texto do Cezar Migliorin publicado hoje no "O Globo":

Arte, democracia e a censura a 'A Serbian Film'
Por Cezar Migliorin

Fomos surpreendidos semana passada com a proibição de exibição do filme de ficção “A Serbian Film — Terror sem limites”, de Srdjan Spasojevic, um filme ao qual eu não dedicaria nenhuma linha, não fosse esse evento. A proibição nos joga para uma época em que cabia aos mais diversos poderes — os mais ricos, mais fortes, mais velhos — definir as imagens que poderiam fazer parte da comunidade e aquelas que não poderiam. A escolha das “boas imagens” visava proteger a comunidade impedindo que certas ideias circulassem. Para que esses poderes pudessem assim operar, eles deveriam partir de um desequilíbrio essencial entre aqueles que sabiam julgar as imagens — religiosos, juízes, políticos — e a massa incapaz de fazer uso das imagens. O filósofo francês Jacques Rancière chamou esse tipo de inscrição das imagens na comunidade de um regime ético das imagens. Nesse regime, a noção de arte, criação, invenção não poderia existir ou, pelo menos, não poderia ter nenhuma relevância posto que a pertinência das imagens não se fazia em relação à sua capacidade inventiva ou representacional, mas em relação às crenças da comunidade, ao ethos. Sem a ficção, a imagem é um duplo do evento, ou seja, o evento novamente. Fica claro que nesse regime, sem a ficção, toda imagem que esteja em desacordo com o que desejam os poderes instalados deve ser eliminada.

Em nossa comunidade — Brasil, século XXI — nos organizamos de forma diferente. Trabalhamos com a noção de arte e de ficção, fazendo com que não existam mais os temas que podem ou não fazer parte da criação artística, os assuntos que podem ser representados e os que não podem. Se isso não está claro para o senso comum, está explicito na Constituição. No inciso IX do artigo 5 lemos o seguinte: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Rancière poderia dizer que a constituição brasileira se filia a um regime estético das imagens.

No campo estético, imagem é uma forma de reflexão sobre o real

Do regime ético à forma que entendemos as imagens hoje há a introdução da variável ficcional e estética, operando uma mudança decisiva. A imagem deixa de ser a coisa em si, para ser uma forma de reflexão da sociedade sobre o que nela existe. Sejamos contra ou a favor, não podemos impedir que a ficção exista nesses termos, com essa liberdade.

Nossa comunidade, entretanto, proíbe certas práticas: assassinatos, roubos, pornografia infantil, etc. Sendo assim, a proibição do longa-metragem de ficção da Sérvia só poderia ser feita caso ele fosse em si um crime. Caso, por exemplo, houvesse uma cena real de pedofilia, o que não é o caso. Entretanto, o filme foi proibido.

Dizendo-se apoiado no Estatuto da Criança e do Adolescente, o advogado do DEM fez uma leitura do Estatuto como se vivêssemos em um regime em que os poderes devessem julgar as imagens que servem e as que não servem para a comunidade. Como se o partido fosse responsável pela proteção dos incultos indefesos que não têm condições de julgar o que veem e ouvem. A desembargadora de plantão construiu seu parecer dentro do mesmo pressuposto e, rompendo um princípio fundamental da democracia que diz que todos têm igualdade de condições para entender e criticar o mundo, impediu a exibição do filme.

Segundo o Art. 241-C do ECA, é proibido “Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual.” Se ignorarmos que as representações visuais fazem parte de uma comunidade em que existe arte e ficção, poderíamos facilmente interpretá-lo como fez a desembargadora e o DEM. Mas é certo que para entender a noção de simulação que está no Estatuto não podemos abandonar a própria comunidade em que o Estatuto foi feito, o Brasil e a sua Constituição.

Nesse sentido, um outro trabalho de interpretação parece necessário. A simulação incide aqui sobre a ideia de parecer real o que é montado, ou seja, dar a impressão de verdade onde há ficção, efetuando, pela montagem, uma falsa impressão de que um crime existiu. No registro ficcional, simular que alguém presenciou um determinado evento é um artifício amplamente utilizado, entretanto algo antecede essa simulação, que é o pacto com o espectador de que aquilo não existiu. No pacto ficcional não há simulação, no sentido de fingimento, apenas uma insinuação sem que o crime se efetive e sem que se possa ter a impressão de que houve crime. No filme em questão, não só não houve crime como a impressão de ter havido crime é restrita ao universo da ficção. Na ficção, a montagem não simula para apagar os limites entre o que é construído como ficção e o que se efetiva na realidade. O estatuto da ficção antecede a impressão de que a criança participou da cena e qualquer público adulto é capaz de compartilhar esse regime de imagens. Entendemos que quando alguém morre em um filme ele não morreu na vida real.

Justiça e DEM querem decidir o que deve ou não ser visto por nós

Chegamos assim ao ponto central de meu argumento. Como sabemos que nenhuma criança foi exposta a situações que a aviltasse, não é tarefa da lei julgar se alguns indivíduos têm ou não a capacidade de lidar com imagens que insinuem pedofilia, como fez a desembargadora ao dizer: “Não se pode admitir e permitir que, em nome da liberdade de expressão, cenas de extrema violência física e moral, inclusive, utilizando recém natos, sejam levadas ao grande público, vez que possam provocar reações adversas, às vezes em cadeia, em pessoas sem equilíbrio emocional e psíquico adequado para suportar tais evidências de desumanidade.”

O texto da desembargadora evidencia um neoplatonismo em que as paixões e as emoções são afetos grandes demais para ficarem nas mãos de artistas e espectadores, por isso devem ser controlados por quem entende o que é bom para a sociedade: a Justiça e o DEM. Trata-se de uma decisão que pode ser ótima para uma comunidade em que as imagens devem guardar continuidade com a vida religiosa ou cívica, mas não para o Brasil. Aqui a liberdade artística é parte do princípio democrático, não somente porque para a arte não há limites entre o que pode ou não ser abordado pelas obras, como não autorizamos nenhum poder a decidir quais são as imagens que devem circular.

Pedofilia, no final das contas, não está em questão nesse caso, mas uma tentativa autoritária em que alguns pretendem dizer o que deve e o que não deve ser visto por nós, pobre massa indefesa. Isso tem um nome: censura. Não, obrigado.

CEZAR MIGLIORIN é professor do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense

domingo, julho 24, 2011

singularidades de uma rapariga loura ***


É delicioso este filme de Manoel de Oliveira. “Singularidades de uma Rapariga Loura” é uma história amor, um conto sobre os enganos de uma imagem. Um filme cuja tensão nasce entre o que se mostra e o que se esconde, nas entrelinhas. Eu acho bem interessante a maneira como o cineasta sublinha o fato de cada um dos personagens verem o mundo de uma maneira diferente. Gosto muito da interação entre os personagens no trem. Os olhares enviesados dos atores. Ela aos poucos olha mais e mais nos olhos do estranho ao seu lado. É engraçado: é como se este filme fosse a conquista de um olhar, do olhar desta mulher que, como nós, é convidada a entrar na brincadeira.

Manoel de Oliveira não provoca sentimentos ou sensações. É algo de diferente ordem. É bem curioso. Vejamos a cena em que o casal se beija e a câmera corta docemente para o pé da rapariga que então se levanta para trás. Este movimento da perna da rapariga é a materialização de sentimento. É um signo. O cineasta isola o signo em seu sentido. E para fazê-lo, ele vai despindo, através das composições frontais, das atuações estilizadas, da cenografia, os excessos dramáticos ou narrativos. É um trabalho de subtração. E o que fica, curiosamente, é o artifício (e as camadas pelas quais o realizador passou para chegar até ali).

Manoel de Oliveira é um velhinho completamente fascinado por algumas das mais sedimentadas convenções da linguagem do cinema. Como disse uma vez Tag Gallagher a respeito dos Straub, o que me impressiona em algumas passagens deste filme (e do cinema todo de Manoel de Oliveira) não é a subversão às convenções consagradas, mas sua autenticidade. Parece mero jogo de palavras, mas não é. Acho importante por vezes distinguir uma coisa da outra. Manoel de Oliveira, como os Straub, não são cineastas anti-convencionais. Muito pelo contrário. Eles estão a todo momento dialogando com as maias variadas referências, algumas delas consagradas. Seus filmes são como uma árvore genealógica.