Os 12 primeiros minutos de “The man from London” (2007) compõem um dos planos sequências mais incríveis que eu já vi. O movimento começa nos revelando a proa de um grande navio, seguindo por belas e misteriosas imagens de um porto, subindo ao céu, confundindo nossa relação com os espaços e os espaços, abrindo espaço, criando espaço, até terminar no ponto de partida da trama deste filme: um estivador solitário testemunha um crime e acaba com uma maleta recheada de dinheiro. São famosos os movimentos de câmera de Bela Tarr. Nestes 12 mins, por exemplo, a câmera consegue estar dentro e fora ao mesmo tempo, ser simultaneamente uma coreografia complexa, um ponto de vista e um exercício do olhar. O filme é realmente sobre uma maneira de olhar as coisas, de explorar o espaço de maneiras inesperadas, meditando sobre as qualidades da luz e da superfície dos objetos. Eu me lembrei de um termo formidável inventado pelo Merleau-Ponty que me parece bem apropriado: voluminosidade! Bela Tarr faz pouco caso da tradicional divisão entre formalistas e realistas, entre os que acreditam na imagem e os que acreditam no real. Pra ele, é todo e uma única coisa. É um certo potencial do cinema que é a todo o momento reafirmado, a cada movimento. Eu entendo que alguns críticos tenham sublinhado um aspecto um tanto “sufocante” em algumas cenas. Bela Tarr estaria buscando um “filme Bela Tarr”. Pra mim, no entanto, que não conheço as obras pregressas do homem, o filme me parece sensacional.
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