quinta-feira, outubro 12, 2006

Fonte da vida °


Eu gosto dos dois primeiros filmes de Darren Aronofsky. Em “Pi” (1998), e “Réquiem para um sonho” (2000), percebe-se o arrojo e o tesão de filmar. Ambos são filmes engenhosos, repleto de boas idéias. Apesar de sempre alimentar um ceticismo sobre o real significado de suas opções estéticas e de todo o sofrimento que seu cinema mostra, Aronofsky investia com alguma eficiência num cinema sensorial, que tornava o espectador parte do mundo descrito nos longas. Mas se em seus dois primeiros trabalhos, o cineasta parecia saber manejar câmera e administrar clima, o mesmo não pode ser creditado à “Fonte da vida”. Muito pelo contrário. E o que é pior: seu projeto estético (de um gosto pra lá de duvidoso) se revela aqui em toda a sua banalidade, numa história trivial, porém rocambolescamente exagerada.

Em “Fonte da vida” temos três histórias em paralelo, todas vividas pelos mesmos atores, Hugh Jackman e Rachel Weisz. A mulher do pesquisador Tommy Creo está morrendo de cancêr, e ele busca desesperadamente a cura que pode salvá-la. Mas caso não consiga, a arte talvez possa. Ele terá de completar o livro que sua mulher deixou incompleto, sobre um cavaleiro espanhol que foi à América Central em busca de árvore da juventude. Na terceira subtrama, com contornos filosóficos-religiosos bem baratos, temos um ser numa bolha vagando pelo espaço e adorando a tal árvore da vida.

Enfim, dessa vez, Aronofsky está pedindo demais. Em primeiro lugar, a emoção exagerada nunca é compartilhada pelo espectador. Em segundo lugar, além de um tom um tanto brega, temos efeitos (o que mostra tudo de cabeça para baixo e depois dá um 180º para voltar ao normal já entrou para história) que nunca dizem exatamente ao que vieram. Em terceiro lugar, a trama nunca se harmoniza, a não ser sob uma perspectiva metafísica fácil. Em quarto lugar, “florestas” da Espanha e “selvagens pagãos” é a puta-que-o-pariu. “A fonte da vida” é um enorme blefe, um produto calculadamente disfarçado por trás de uma idéia supostamente culta e inteligente.

Um comentário:

CHICO FIREMAN disse...

Muito ruim mesmo, Julio.