“Acidente” é um filme em que pequenas realidades se revelam na trivialidade cotidiana de 20 cidades mineiras. A estrutura do longa de Cao Guimarães e Pablo Lobato é mesmo a de um poema, feito de nomes de cidades, imagens e som; mas, nesta captação de uma realidade fugaz, nesta busca por uma identidade camuflada ou micro, “Acidente” talvez se aproxime de uma crônica. A estrutura do poema parece servir para a atrair e roubar o acaso. O filme é uma coleção de acontecimentos. Acasos que apareceram para os cineastas e para a câmera e que não podem ser refeitos. Em “Acidente”, o cinema não narra, mas indica. Indica a presença real das coisas. O cinema nos oferecendo o acaso através de uma lupa. Em determina seqüência, a câmera registra uma rua de uma pequena cidade em diferentes momentos do dia de dentro de um bar. De manhã, um senhor (aparentemente o dono) senta a esquerda, olhando para a rua. De tarde, ele sai do quadro por uns tempos, para depois aparecer em pé, do lado de fora do bar. Eis aí, nessa pequena descrição (que não pode ser escrita, falada ou pintada), a própria especificidade do cinema. Tais fragmentos contêm toda a emoção e independência cinematográficas.
O encantamento do espectador com esse filme passa certamente pelo prazer de estar compartilhando a experiência dos cineastas. E Guimarães e Lobato desafiam o olhar e a audição do espectador. Em “Acidente”, o fora-de-campo, aquilo que é situado fora do quadro, também é preenchido por uma presença especifica. O longa é constituído por diálogo intenso entre campo e fora-de-campo. Um diálogo provocador, para ser mais exato. Vínculos sonoros, visuais e narrativos atam uma dimensão à outra, expandindo para o imaginário tudo o que é mostrado. Por todo o longa espalham-se tons evocativos e nuanças expressivas que nos lembram que o mundo é mais do que a soma das evidencias visíveis que nos são mostradas. Em “Acidente”, os cineastas se empenham nas maneiras pelas quais a voz deles dá a fragmentos do mundo histórico uma integridade formal e estética particular ao filme. E ao amplificar os acontecimentos “reais” pelo “imaginário”, este documentário parece endossar a idéia de que o “significado” é um fenômeno subjetivo. A própria característica referencial do documentário, que atesta sua função de janela aberta para o mundo parece um tanto deslocada aqui. “Acidente” exige nosso engajamento, nossa cumplicidade, o que talvez torne o espectador o seu primeiro referente.
O encantamento do espectador com esse filme passa certamente pelo prazer de estar compartilhando a experiência dos cineastas. E Guimarães e Lobato desafiam o olhar e a audição do espectador. Em “Acidente”, o fora-de-campo, aquilo que é situado fora do quadro, também é preenchido por uma presença especifica. O longa é constituído por diálogo intenso entre campo e fora-de-campo. Um diálogo provocador, para ser mais exato. Vínculos sonoros, visuais e narrativos atam uma dimensão à outra, expandindo para o imaginário tudo o que é mostrado. Por todo o longa espalham-se tons evocativos e nuanças expressivas que nos lembram que o mundo é mais do que a soma das evidencias visíveis que nos são mostradas. Em “Acidente”, os cineastas se empenham nas maneiras pelas quais a voz deles dá a fragmentos do mundo histórico uma integridade formal e estética particular ao filme. E ao amplificar os acontecimentos “reais” pelo “imaginário”, este documentário parece endossar a idéia de que o “significado” é um fenômeno subjetivo. A própria característica referencial do documentário, que atesta sua função de janela aberta para o mundo parece um tanto deslocada aqui. “Acidente” exige nosso engajamento, nossa cumplicidade, o que talvez torne o espectador o seu primeiro referente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário