quarta-feira, setembro 27, 2006

Minha pequena sunshine ***


Dirigido pelos estreantes Jonathan Dayton e Valerie Ferris, “Minha pequena sunshine” traz a história dos Hoovers. O pai (Greg Kinnear) desenvolveu um método de auto-ajuda que é um fracasso e está à beira do divórcio com sua mulher (Toni Collete); o filho mais velho (Paul Dano) fez voto de silêncio; o cunhado (Steve Carell) é um professor suicida; e o avô (Alan Arkin) foi expulso de uma casa de repouso por usar heroína. Nada funciona para o clã, até que a filha caçula, a desajeitada Olive (Abigail Breslin), é convidada para participar de um concurso de beleza para meninas. Durante três dias, eles terão de atravessar o país numa kombi amarela enferrujada. Juntos eles irão carregar o enorme peso de uma sociedade que cobra sempre a perfeição (neste sentido, a seqüência do desfile das meninas é um tanto brutal), e encontrarão no próprio seio da família a argamassa para afirmar suas respectivas idiossincrasias.

O filme não parece particularmente ambicioso em termos visuais ou de narrativa. No entanto, modestamente, num feliz cruzamento de ótimas interpretações com uma cuidadosa e sensível construção dos personagens, “Minha pequena sunshine” se transforma numa comédia de estrada revigorante. Escrito pelo estreante Michael Arndt, o filme nos apresenta seus personagens (“loosers em potencial) um por um. A caracterização de cada um deles é feita com tantos detalhes, os personagens falam, se movem e olham de tal forma que nos assombramos com o resultado e com a impressão de realidade - no “O Globo”, Ely Azeredo chegou a mencionar Jean Renoir. O curioso é que este universo pessoal (desenhado pelo filme) que se passa na cabeça de cada um deles não poder ser dividido, mas apenas compartilhado. E é a família que não só oferece todos os pré-requisitos para que essas trocas acontecem, como também é ela resultado destas trocas. Parece ser esta constatação que os personagens encontram no fim da estrada, quando percebem que vivemos as mesmas experiências de maneiras absolutamente únicas, que são essas diferenças que nos tornam especiais, e que a família talvez seja o melhor espaço para legitimá-las.

E é delicioso o humor de “Minha pequena sunshine”. Um humor que estranhamente rima com dor, mas para ultrapassá-la. Somos convidados a rir dos personagens que se debatem em seu ridículo. Na verdade, rimos daquilo que nos envergonha e que nos machuca. Rimos, em última instância, de nós mesmos. Quando gargalhamos na seqüência do chocante desfile de Olive, por exemplo, nos damos conta da própria condição humana presente nesta situação. Talvez rimos porque nos percebemos mais humanos, por também sermos (extremamente) ridículos de vez em quando. E com nossas risadas, a todos redimimos.

Nenhum comentário: