Por vezes, gosto e qualidade simplesmente não batem. Na verdade, embora estejam (complexamente) atados, não são a mesma coisa. Gostar de algo não lhe confere exatamente qualidade. Tampouco gostamos de tudo que é reconhecidamente (inclusive por nós mesmos) bom. Exemplos: sou fã inveterado de Jean-Claude Van Damme, mas seria dificílimo dar mais de duas estrelas para a grande maioria de seus filmes; acho Franz Ferdinand um saco, porém, reconheço a qualidade da banda. Enfim... Tudo isso para dizer em alto e bom tom que eu gosto de Kevin Smith. É verdade que Smith não é talentoso no que diz respeito à composição visual de seus filmes. Todos os enquadramentos parecem pedir pela televisão e não alimentam nenhuma ousadia em termos de mise-en-scène. Smith apenas filma (às vezes de maneira preguiçosa) seus roteiros. No entanto, sempre me diverto muito em seus trabalhos.
O fato é que, dentre as idiossincrasias da critica brasileira (incluindo a de Internet), Smith talvez esteja entre os mais odiados. Gostar dele é quase como uma ofensa às boas maneiras cinematográficas. Neste festival mesmo, flagrei uma série de conversas depreciativas a respeito de um filme que ainda não havia sido visto, “Clerks II”. E mesmo depois de visto, as críticas são sempre as mesmas. O filme realmente não é lá essas coisas, mas não entendo qual é exatamente o problema de se elogiar a mediocridade, a falta de ambição – umas das freqüentes acusações feitas a Smith. Também não sei porque se divertir com Smith seria um sintoma grave de condicionamento do “humor à americana”. E tampouco compreendo qual seria o problema de se fazer um humor que agrada somente aos menores de 30 anos.
Smith filma suas próprias idéias, todas ambientadas em sua cidade natal, a Nova Jersey, e conquistou enorme culto internacional ao estabelecer uma ligação clara e direta com a sua própria geração, a chamada Geração X. Em “O balconista” (1994), seu primeiro filme, mostrou o ócio dos jovens numa loja de conveniência e numa locadora. Doze anos mais tarde, permanece um bom filme. O que realmente não pode ser estendido a muitos dos outros trabalhos de Smith, que, recentemente, parecia estar no caminho da domesticação hollywoodiana. Depois do enorme fracasso de “Jersey girl” (2004), o cineasta não teve outra alternativa senão revisitar antigos universos, deixando, talvez para trás, a promessa de realização de algo diferente ou melhor. A solução encontrada por ele foi retornar ao Quick Stop. Quando o lugar é destruído num incêndio, Dante Hicks (Brian O'Halloran) e Randal Graves (Jeff Anderson), ambos com 33 anos, têm que achar não só um novo lugar para matar o tempo, como também novos empregos. Sem nenhuma ambição na vida, eles vão parar na lanchonete Mooby’s. Dante está preste a se casar. E Randal continua com as mesmas piadas, com especial atenção ao genial resumo mímico da trilogia do “Senhor dos Anéis” e a história do troll que habita a vagina da namorada de Elias (Trevor Fehrman), o ajudante beato e nerd da lanchonete. E como não podia ser diferente, Jay (Jason Mewes) e Silent Bob (Kevin Smith) também estão presentes, e parecem ter encontrado Jesus.
É bom ver Smith retornando mais pessoal, deixando seus personagens levar a história (e não o contrário, como de costume em seus filmes). “Clerks II” é mais uma prolongada piada (cinematográficas/nerds/escatológicas/sexuais/infantis), com direito a auto- referências, muitos diálogos e boas interpretações (em especial as de Jeff Anderson, Trevor Fehrman e Jason Mewes). Tudo o que seus fãs queriam. E Smith consegue mais uma vez entregar momentos indescritíveis de um humor cru e intenso, combinando uma ironia (auto)depreciativa com uma enorme compaixão. No meu entender, o filme desanda quando Smith tenta cobrir “Clerks II” com um verniz romântico. Aqui, o longa descamba para um romance adolescente tremendamente previsível – talvez a semente desta virada já estava presente nos personagens femininos, ambos um tanto tortos.
Enfim, continuo gostando de Smith. “Clerks II” parece mesmo uma espécie de tomada de consciência por parte do cineasta, como apontou o Jaime Biaggio no Críticos.com. Smith parece ter entendido que é só isso mesmo que ele sabe fazer. Que é isso que seus fãs querem. E que não há essencialmente nenhum problema nisso. Veremos. Eu verei, pelo menos. Com toda certeza.
Smith filma suas próprias idéias, todas ambientadas em sua cidade natal, a Nova Jersey, e conquistou enorme culto internacional ao estabelecer uma ligação clara e direta com a sua própria geração, a chamada Geração X. Em “O balconista” (1994), seu primeiro filme, mostrou o ócio dos jovens numa loja de conveniência e numa locadora. Doze anos mais tarde, permanece um bom filme. O que realmente não pode ser estendido a muitos dos outros trabalhos de Smith, que, recentemente, parecia estar no caminho da domesticação hollywoodiana. Depois do enorme fracasso de “Jersey girl” (2004), o cineasta não teve outra alternativa senão revisitar antigos universos, deixando, talvez para trás, a promessa de realização de algo diferente ou melhor. A solução encontrada por ele foi retornar ao Quick Stop. Quando o lugar é destruído num incêndio, Dante Hicks (Brian O'Halloran) e Randal Graves (Jeff Anderson), ambos com 33 anos, têm que achar não só um novo lugar para matar o tempo, como também novos empregos. Sem nenhuma ambição na vida, eles vão parar na lanchonete Mooby’s. Dante está preste a se casar. E Randal continua com as mesmas piadas, com especial atenção ao genial resumo mímico da trilogia do “Senhor dos Anéis” e a história do troll que habita a vagina da namorada de Elias (Trevor Fehrman), o ajudante beato e nerd da lanchonete. E como não podia ser diferente, Jay (Jason Mewes) e Silent Bob (Kevin Smith) também estão presentes, e parecem ter encontrado Jesus.
É bom ver Smith retornando mais pessoal, deixando seus personagens levar a história (e não o contrário, como de costume em seus filmes). “Clerks II” é mais uma prolongada piada (cinematográficas/nerds/escatológicas/sexuais/infantis), com direito a auto- referências, muitos diálogos e boas interpretações (em especial as de Jeff Anderson, Trevor Fehrman e Jason Mewes). Tudo o que seus fãs queriam. E Smith consegue mais uma vez entregar momentos indescritíveis de um humor cru e intenso, combinando uma ironia (auto)depreciativa com uma enorme compaixão. No meu entender, o filme desanda quando Smith tenta cobrir “Clerks II” com um verniz romântico. Aqui, o longa descamba para um romance adolescente tremendamente previsível – talvez a semente desta virada já estava presente nos personagens femininos, ambos um tanto tortos.
Enfim, continuo gostando de Smith. “Clerks II” parece mesmo uma espécie de tomada de consciência por parte do cineasta, como apontou o Jaime Biaggio no Críticos.com. Smith parece ter entendido que é só isso mesmo que ele sabe fazer. Que é isso que seus fãs querem. E que não há essencialmente nenhum problema nisso. Veremos. Eu verei, pelo menos. Com toda certeza.
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